sábado, 19 de março de 2016

Menor privacidade dos escritórios abertos reduz engajamento.

Das salas fechadas ao chamado “open office” — espaço aberto com ou sem divisórias — até escritórios onde os funcionários não têm mais lugar fixo para sentar. As mudanças nos espaços físicos das empresas refletem, há anos, as transformações nas relações de trabalho, e geram impacto no engajamento dos funcionários com a companhia.
Uma pesquisa da empresa de mobiliário corporativo Steelcase buscou entender esse efeito atualmente. Com a participação de mais de 800 profissionais brasileiros que trabalham em escritórios, o estudo aponta que a maior parte das empresas hoje se organiza apenas no formato “open office” (35%) ou em uma mistura dele com escritórios individuais (36%). “Há um impacto tremendo do ambiente de trabalho no engajamento, produtividade e bem-estar do colaborador”, diz Flavio Batel, diretor-geral da Steelcase no Brasil.
Os “sem sala”, por exemplo, se dizem menos satisfeitos com o emprego. Cerca de 50% dos profissionais que atuam em um ambiente aberto ou sem lugar fixo na empresa se consideram motivados no trabalho, enquanto 81% daqueles com escritório privado fazem o mesmo. A diferença entre os dois grupos continua na casa dos 20 pontos percentuais quando os funcionários são questionados se sentem felicidade em ir trabalhar ou se o emprego proporciona realização pessoal.
Na opinião de Batel, a menor satisfação dos profissionais que trabalham em ambientes abertos reflete não necessariamente um problema com o formato, mas uma insatisfação com a falta de alternativas. “A empresa precisa pensar em ter espaços que permitam trabalhar com privacidade em determinados momentos do dia. Quando você elimina qualquer possibilidade do funcionário procurar um espaço para trabalhar com mais concentração ou fazer uma atividade isolada, o excesso de conexão prejudica”, diz.
Embora o incentivo à colaboração seja uma das justificativas para a adoção de espaços mais abertos, nem todos os que atuam dessa forma sentem isso no resultado. Entre aqueles que trabalham em um espaço privado, 78% acham que a empresa onde atuam encoraja o trabalho em equipe e a colaboração. Já entre aqueles que dividem um espaço com colegas, cerca de 60% concordam. Profissionais sem lugar fixo acham isso em quantidade ainda menor (53%).
Para Batel, não adianta uma empresa achar que os funcionários vão colaborar mais só porque o ambiente em que elas trabalham foi aberto. Além de proporcionar espaços diversos para diferentes fins de trabalho, o diretor reforça a importância da cultura da empresa acompanhar as mudanças. “Por mais que você invista em tecnologia, espaço e projeto, nada vai adiantar se você não fizer um trabalho com os funcionários para comunicar a mudança desde o primeiro dia. Isso só funciona se vier do topo da organização para baixo”. Por conta disso, diz ele, é hoje cada vez mais comum que profissionais em cargos de liderança sentem em mesões ou não tenham lugar fixo, junto com o resto do quadro.
Além dos brasileiros, a pesquisa também falou com outros 12 mil funcionários de 17 países. Comparando com os demais, o Brasil ficou abaixo da média global quando analisadas as ofertas de espaços alternativos no ambiente de trabalho. Menos brasileiros dizem que sua empresa possui salas de reunião em número suficiente, salas privadas e áreas de descanso ou recreação.
Fonte: Valor Econômico, por Letícia Arcoverde, 15.03.2016

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