Com cenário econômico em crise, inflação alta, crescimento da taxa de desemprego e queda de confiança na economia, as empresas ficaram mais cautelosas na hora das contratações. Por outro lado, os profissionais talentosos também passaram a adotar uma posição mais reservada em relação às novas oportunidades de emprego.
O cenário abre espaço não só para redução da média salarial como redução da rotatividade nas empresas. De acordo com especialistas ouvidos pelo DCI, os profissionais estão aceitando receber, em média, salários entre 10% e 15% menores para não ficarem fora do mercado. “O momento traz um efeito importante na retenção de talentos. Com as empresas diminuindo as contratações, os profissionais ficam menos vulneráveis a deixar a empresa”, diz o sócios da consultoria Ockam, Marcos Reitano.
Para o especialista, com um mercado menos aquecido, a guerra pelos empregados mais talentosos diminui. São poucas as empresas que, em um momento de crise, se propõem a buscar profissionais diferenciados no mercado.
A caçadora de talentos da consultoria de recursos humanos RED, Daniela Lopes, explica que este cenário desafiador tem forçado altos executivos a aceitarem remunerações que estão abaixo das últimas atuações. “Neste momento, as empresas optam por oferecer salários abaixo dos ofertados nos últimos anos”, afirmou.
De acordo com Reitano, as empresas podem enxergar os talentos de formas diferentes. O primeiro deles, e mais aceito entre as empresas, é o profissional com alto desempenho e que se destaca entre os outros funcionários. “Ele não só faz muito bem as atividades designadas como a empresa também vê nele um profissional ainda melhor no futuro”, detalhou o sócio da Ockam.
O segundo perfil bem visto nas empresas, explica o consultor, é o jovem talento, que geralmente chega à empresa por meio de programas de trainee. Independentemente da forma como encara os talentos, a prática de retenção do profissional que se destaca é utilizada por várias empresas com o objetivo de motivar e reconhecer os trabalhos desenvolvidos, explicou Gabriel Almeida, gerente da divisão de engenharia e logística da Talenses – empresa de recrutamento de executivos para média e alta gerência e C-level.
“Isso incentiva que o funcionário busque não apenas o desenvolvimento pessoal e profissional, mas motive colegas a atingirem mesmos resultados.”
Para ele, esse ambiente saudável, mantém o clima da empresa, fator fundamental para crescer nos períodos de crise.
Como segurar talentos
No ramo do varejo, a rede de farmácias Pague Menos é um exemplo de retenção de talentos. A empresa oferece 400 mil horas de treinamentos por ano aos funcionários, tem 3% dos colaboradores (cerca de 570) desde a fundação (1981), e outros 15% trabalhando na rede há mais de dez anos. Com as medidas, a empresa se coloca como um ponto fora da curva, pois, enquanto a rotatividade do varejo gira em torno de 6% a 7% ao mês, a empresa tem média de 3,7%.
Para desenvolver um talento, a aposta da empresa é contratar pessoas de primeiro emprego e criar oportunidades através de processos seletivos internos. “O funcionário entra como operador de caixa, por exemplo, mas depois de três meses já recebe propostas de capacitação para trabalhar em outras áreas como vendas”, diz a gerente da área de desenvolvimento humano da varejista, Magna Alves. Entre os benefícios oferecidos pela Pague Menos estão planos de saúde, convênio com escolas, vale alimentação e refeição. Para o nível de gestores, as vantagens são celulares, carros, casa da empresa, auxílio combustível. “Temos programas de bolsas de estudos para graduação, mestrado e idiomas.”
Outra empresa que aposta nos benefícios é a Innovative – consultoria de sistemas integrados de gestão. “Temos um pacote de remuneração estratégica, além de oferecer salários acima do mercado e um programa de benefícios flexíveis”, afirma a gerente de gestão de pessoas, Tatiana Abraão. A executiva explica que a empresa tem um programa de remuneração variável baseado na meritocracia. “Todos ganham, independe da posição. Um talento é ‘vitrine’ para os outros funcionários.”
Fonte: Diário do Comércio, Indústria e Serviços, por Ana Paula Silva, 16.09.2015
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