É raro existir consenso entre os analistas de mercado de trabalho sobre as regras que regulam a contratação e a descontratação das pessoas no Brasil. Há um ponto, porém, com o qual todos concordam: o nosso país está precisando de um choque de produtividade, especialmente nos setores da indústria, do comércio e de serviços. Para a melhoria da produtividade, a educação não é tudo, mas é quase tudo.
Está na moda recomendar mais ênfase ao ensino profissional. Os empresários querem uma escola que prepare os trabalhadores, para fazer um bom uso dos métodos de produção. Os educadores dizem que o prioritário é a boa preparação nos conhecimentos básicos – linguagem, matemática, ciências, etc. Os dois lados têm razão.
No Brasil, o ensino profissional é ministrado por escolas públicas e privadas como, por exemplo, as do Sistema S. Estas, por estarem mais perto das empresas, tendem a acompanhar melhor a evolução tecnológica e a ajustar os currículos nessa direção. As escolas públicas, mais distantes das empresas, têm maior dificuldade para manter os currículos atendendo às demandas empresariais.
Mas os países que alcançaram os melhores resultados em matéria de produtividade se afastaram dessa dicotomia e adotaram modelos baseados nas parcerias público-privadas. No Japão, por exemplo, a transformação do país em potência econômica no pós-guerra se baseou em boa educação básica (nas escolas) e em muito treinamento em serviço (nas empresas). Na Alemanha, há muito tempo se pratica o sistema dual, onde o aluno fica parte do tempo na escola e outra na empresa. A Coreia do Sul optou igualmente por um modelo que combina a teoria da escola com a realidade do mundo do trabalho.
Nesses sistemas as escolas se concentram no ensino básico de boa qualidade. Como estão entrosadas com as empresas, elas não precisam investir em oficinas, laboratórios, equipamentos e outras facilidades que são essenciais para o ensino profissional. Com isso o custo da formação profissional cai e a eficiência sobe.
Vários estudos mostram que as parcerias público-privadas geram um forte impacto na elevação da produtividade dos jovens. Formam-se pessoas produtivas que têm bom senso, lógica de raciocínio, capacidade de transformar informações em conhecimentos práticos e, com isso, se tornam capazes de acompanhar a evolução das tecnologias e dos empregos que estão em constante mudança (Josh Hawley, Public Private Partnerships in Vocational Education and Training – Examples and Models, Washington: Banco Mundial, s.d.).
Li recentemente um artigo que registrou a crucial importância dessa estratégia na transformação do Japão de uma nação destroçada pela guerra em uma das maiores potências industriais do mundo (Yasuhiro Ueshima, High economic growth and human capital: contitions for sustained growth, Japan Labor Review, Vol. 1, no. 3, 2014).
Eu sei que é difícil de replicar no Brasil os sistemas acima indicados. Tradição, cultura e disciplina pesam muito e o corporativismo dos órgãos públicos e das entidades empresariais atrapalha bastante. Mas precisamos tentar, ainda que seja na base de um projeto-piloto, pois o Sistema S tem qualidade, mas não tem escala; o Pronatec se propôs a ter escala, mas já no segundo ano encolheu as vagas de 3 milhões prometidas para 1 milhão efetivadas; o programa de aprendizagem para menores até hoje não conseguiu uma boa articulação entre empresa e escola; e a prática do estágio, que é alentadora, tem muito a melhorar.
Cito esses programas porque são sementes importantes para tentar implantar entre nós uma parceria público-privada no campo da formação profissional. Dando certo, podemos expandir. Dando errado, podemos corrigir. O que não se pode é continuar observando e lamentando a baixa produtividade do trabalho no Brasil sem nada fazer.
(*) José Pastore é professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomerico-SP e membro da Academia Paulista de Letras.
Fonte: O Estado de São Paulo, por José Pastore, 28.07.2015
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