Por Patrícia Bispo para o RH.com.br
A expressão "tempo é dinheiro" tornou-se uma constante em todas as esferas que envolvem o ser humano. No contexto corporativo, ela tem sido bastante válida no momento realizar uma nova contratação, afinal a empresa necessita que a vaga disponível seja preenchida o mais rápido possível por um profissional que atenda às suas expectativas e que gere resultados expressivos ao negócio. Na outra ponta do iceberg encontramos o contratado que também cria perspectivas em torno da oportunidade que lhe é oferecida, pois essa significa a chance de realização não apenas no campo profissional, mas também pessoal.
Se por um lado as organizações sente urgência para preencher as lacunas existentes em seus times, por outro o processo seletivo não pode ser conduzido de qualquer maneiro. É preciso que existam critérios que norteiam a contratação do profissional e transformem a seleção em uma ação estratégica para a organização. Para falar sobre o assunto, o RH.com.br entrevistou Regiane Lucas, consultora especialista na área e gerente da unidade da Lapa da Luandre - Consultoria de Recursos Humanos. Segundo ela, o mercado vivencia uma realidade aonde as empresas buscam profissionais que se empenharam na qualificação acadêmica, tenham realizado intercâmbios, procurem estabilidade nas organizações e se foquem em um desenvolvimento sólido na carreira. "Um processo seletivo bem conduzido vai muito além da redução de custos para a área de RH, pois quando se escolhe bem um talento aumenta-se a produtividade da empresa como um todo, já que o colaborador selecionado tende a ficar mais tempo no emprego", completa a consultora. Confira a entrevista na íntegra e veja quais são os fatores que contribuem e interferem para o êxito de uma seleção. Boa leitura!
RH.com.br - Se antigamente para se contratar um profissional a empresa recorria apenas a um anúncio de jornal, hoje vemos um cenário bem diferenciado. Quais foram as principais mudanças relacionadas aos processos seletivos, notadamente nos últimos dez anos?
Regiane Lucas - Os profissionais deixaram de percorrer as empresas e as consultorias com curriculum vitae em pastas e ler anúncios em jornais. Os talentos passaram a realizar as buscas por novas oportunidades através de sites especializados, de sites das próprias empresas que oferecem vagas e também através de suas relações pessoais. O primeiro contato do profissional com as empresas passou a ser o curriculum vitae que precisa ser elaborado de forma eficiente, clara e objetiva para que possa atender às necessidades dos perfis divulgados em sites. Nos últimos anos a busca pela nova proposta começa em casa, no escritório ou na própria empresa, quando as pessoas candidatam-se às vagas divulgadas na internet.
RH - As seleções de profissionais tornaram-se ações estratégicas para as empresas?
Regiane Lucas - Sim, toraram-se. Por quê? Porque, com o tempo, percebeu-se que as organizações que focam em desenvolvimento e retenção têm, comprovadamente, retorno veloz e crescimento sustentável. Em alguns casos, realizar o processo seletivo de maneira mais estratégica pode reduzir em até 90% o custo nas contratações, o que é fundamental para qualquer empresa hoje em dia.
RH - Hoje, falasse muito da escassez de talentos para o mercado. Por outro lado, encontramos milhares de pessoas à procura de oportunidades. Qual o ponto de desequilíbrio que contribui para essa realidade?
Regiane Lucas - O mercado vivencia uma realidade aonde as empresas buscam profissionais que se empenharam na qualificação acadêmica, tenham realizado intercâmbios, procurem estabilidade nas organizações e se foquem em um desenvolvimento sólido na carreira. E muitas vezes, em contrapartida, nos deparamos com profissionais que buscam novas oportunidades sem a conclusão da escolaridade mínima, sem um foco profissional e com atividades profissionais tão diversas que não revelam o real interesse do candidato. Isso provoca certo desequilíbrio entre as partes: profissionais e empresas.
RH - Quais os grandes benefícios que um processo seletivo bem conduzido gera a uma organização?
Regiane Lucas - Um processo seletivo bem conduzido vai muito além da redução de custos para a área de Recursos Humanos, pois quando se escolhe bem um talento aumenta-se a produtividade da empresa como um todo, já que o colaborador selecionado tende a ficar mais tempo no emprego e a se identificar mais com a empresa e com seus valores, gerando uma relação proveitosa para os dois lados.
RH - Quais os principais fatores que contribuem para o êxito de um processo de seleção?
Regiane Lucas - Podemos destacar alguns. O primeiro deles é envolver os líderes do departamento contratante no processo, já que eles estão alinhados com os desafios da empresa. Depois, avaliar mais do que o currículo do candidato: o potencial emocional e intelectual é cada vez mais valorizado, por isso a avaliação psicológica é importante. Também é recomendado contar com consultorias especializadas nesse tipo de trabalho, uma vez que estão mais preparadas para essa demanda e contam com avaliações mais criteriosas e ferramentas eficazes como, por exemplo, entrevistas por competência, processos customizados e dinâmicas específicas para cada situação.
RH - Então, é fundamental a presença da área requisitante no processo de seleção?
Regiane Lucas - Sim, especialmente os líderes. Os gestores devem estar alinhados com os desafios da empresa: desenvolvimento de lideranças, desenvolvimento de carreira e sucessão, gestão por habilidades e competências, e o clima organizacional. Se eles estão com esses valores em mente, auxiliam muito na escolha de um candidato que se encaixe às necessidades da empresa contratante.
RH - O que geralmente colabora para a falha de um processo seletivo?
Regiane Lucas - A falha de um processo seletivo normalmente ocorre quando não se conhece a cultura, o objetivo e a estrutura da empresa contratante. Sem essas questões bem alinhadas, não se pode avaliar qual candidato melhor se adequará ao processo seletivo que está sendo conduzido.
RH - As atividades comportamentais devem ser usadas em todo processo seletivo?
Regiane Lucas - Sim, porque elas ajudam a avaliar diferentes características do comportamento do candidato em ambientes diversos, especialmente de sua personalidade. Com as atividades comportamentais fica mais fácil para o selecionador "enxergar" além das competências e das qualificações profissionais do candidato, pois ele passará a ter um canal para avaliar também sua postura daquele talento e um provável comportamento em uma situação que poderá ser vivenciada no trabalho.
RH - Que competências comportamentais têm sido mais requisitadas pelas empresas, porém são difíceis de serem percebidas pela maioria dos candidatos?
Regiane Lucas - Independente do setor da empresa, o dinamismo, o comprometimento e a eficiência são características básicas para qualquer candidato. Isso não significa que o processo seletivo tenha ficado mais difícil, mas ele se tornou mais detalhado e com mais obrigação de assertividade. Por outro lado, os candidatos também estão mais exigentes, pois apresentam objetivos mais agressivos, já que buscam reconhecimento salarial e evolução de carreira em curto prazo. Ou seja: não basta encontrar o profissional certo, mas atraí-lo e convencê-lo também se tornou uma necessidade para as empresas.
RH - Não podemos falar das seleções, sem mencionarmos o papel fundamental do selecionador. O que deve ser esperado deste personagem específico?
Regiane Lucas - Sua primeira ação é conhecer a empresa que busca o profissional. Alinhar detalhes do perfil técnico, comportamental e o porquê desta contratação. Deve realizar a divulgação da vaga em vários sites de forma clara, com questões objetivas para que tanto o candidato quanto ele possa avaliar o que é imprescindível para o cargo em questão. Na entrevista, o selecionador buscar questionar o que for fundamental para aquela posição e tentar avaliar se os objetivos tanto do candidato quanto da empresa serão alcançados.
RH - Quais suas expectativas para os processos seletivos nos próximos dez anos?
Regiane Lucas - Acredito que o mercado vai avaliar com "bons olhos" os talentos mais estáveis, que buscaram solidificam sua carreira no aprendizado e no desenvolvimento pessoal e profissional. As empresas serão cada vez mais exigentes quanto à formação acadêmica e aos cursos extracurriculares de quem quiser fazer parte dos seus times. Também avaliarão com mais ênfase as questões comportamentais como: adaptabilidade, resiliência e relacionamento interpessoal. Visto todas as mudanças que as empresas sofrem devido às fusões, às alterações culturais e à rapidez do desenvolvimento tecnológico, essas questões são fundamentais para os profissionais.
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