Você já zombou da mesa bagunçada de um colega? Então certamente você é dos que pensam que a desordem no ambiente de trabalho é um motivo de vergonha.
Segundo pesquisa realizada pela agência de recrutamento Adecco, 57% dos trabalhadores admitem que julgam seus pares pela limpeza de seu espaço de trabalho. Em outra pesquisa da empresa, cerca de um terço dos trabalhadores disse que as pessoas que deixam as mesas e os espaços comuns desordenados são seu maior aborrecimento no ambiente de trabalho.
Mas muitos de nós temos uma ideia errada sobre a bagunça. Ela não é totalmente ruim e os processos neurais que a transformam em um problema não começam, nem terminam, nas nossas mesas de trabalho.
A próxima temporada de limpeza pode finalmente ser o momento de eliminar aquela pilha de papéis que apinha sua vista, mas antes de fazer isso veja o que a ciência diz sobre o efeito da desordem no nosso cérebro e como administrá-lo.
Capacidade de concentração
Primeiro, é importante entender por que ter muitas coisas ao redor pode prejudicar nossa capacidade de concentração. Nós dependemos de certos processos cerebrais que nos ajudam a entender em que temos que nos concentrar quando navegamos em um mundo cheio de gente, quadros de avisos, pilhas de papéis e estímulos vindos de todos os lados, disse a doutora Sabine Kastner, professora de neurociência e psicologia da Universidade de Princeton.
“Há muitos objetos no mundo que precisamos processar quando abrimos os olhos”, acrescentou. “Isso cria um gargalo. Há um limite de recursos para o que você é capaz de processar simultaneamente”.
Nossos cérebros não só filtram muitas das visões e sons do entorno, mas o destino dos objetos desnecessários também é tão severo que eles podem até não receber uma representação neural.
Em outras palavras, no que diz respeito ao nosso cérebro, eles não existem –e se esses objetos invisíveis representam tarefas (digamos, uma pasta relacionada a um projeto por terminar), isso pode fazer com que eles nunca sejam finalizados. Além disso, o constante processo de vasculhar o mundo para determinar o que merece a nossa atenção tem seu preço.
“Você pode sobrecarregar qualquer rede neural e qualquer mecanismo cognitivo a ponto de torná-lo completamente disfuncional”, disse Kastner. “Por isso, se há muita bagunça no seu mundo, em algum ponto esse mecanismo entrará em colapso”.
Isso dificulta a vida de uma pessoa com a mesa totalmente bagunçada na hora de focar em um item. E assim como as redes neurais responsáveis por esse sistema, podemos facilmente acabar nos sentindo sobrecarregados.
Mas aqui está o problema: a bagunça excessiva é ruim, mas sujeitar-se a um ambiente vazio e desestimulante não é melhor. “Se você organiza completamente o seu mundo, colocando uma pessoa em um quarto estéril com poucos objetos, esses mecanismos de seleção de atenção se desligam”, disse Kastner. “Parece estranho, mas precisamos de um pouco de desordem para operar normalmente.”
Nível ideal de desordem
Segundo Kastner, o nível ideal de desordem é diferente para cada indivíduo. É por isso que algumas pessoas conseguem se concentrar muito bem com uma mesa bagunçada, enquanto outras se desligam ao ver um papel fora do lugar.
Se você ficar muito abaixo do nível ideal eliminando muita desordem, seu cérebro pode acabar sendo desestimulado, possivelmente tornando mais difícil para você operar no auge do desempenho –particularmente no tocante a tarefas que exigem criatividade.
Por isso, se você lida com um colega particularmente obcecado pela organização, que gosta de julgar sua mesa relativamente bagunçada, você tem minha permissão para pedir que ele te deixe em paz, porque é assim que você trabalha melhor.
Fonte: UOL Economia / Bloomberg, por Seth Porges, 11.04.2016
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