Por Viviane Rodrigues para o RH.com.br
GRAFENO é um material 200 vezes mais resistente que o aço, sete vezes mais leve que o ar, condutor de eletricidade e calor, transparente e flexível que pode revolucionar a indústria eletrônica. Trata-se de uma folha plana de moléculas de carbono que está deixando pesquisadores da indústria de tecnologia maravilhados. Com ele, seria possível criar produtos mais finos, flexíveis e com baterias mais poderosas. Imagine, por exemplo, um celular fino como uma folha, que pudesse ser dobrado e cuja bateria durasse mais de uma semana?
Quando li essa matéria que abordava a descoberta do grafeno pelos pesquisadores da indústria eletrônica, eu estava buscando algo contemporâneo para falar ou comparar à mulher. Então, logo pensei: "Há milhares de anos o mundo já tem um ‘material' ainda mais revolucionário que o grafeno, a mulher... E da mesma forma que o grafeno, ainda não conseguiram definir para quantas finalidades ela existe...". Tenho 36 anos de experiência de causa, e me dê licença os homens-essenciais na vida das mulheres, mas hoje este artigo aqui é para homenagear sim a nossa classe! (risos)
Fala sério!
Ano de 2016... Infelizmente, ainda hoje é possível constatar profunda discrepância de direitos entre homens e mulheres, mesmo com alguns avanços consideráveis nos últimos anos. A parte importante de avanço é o aumento do número de mulheres no mercado de trabalho. Isso é relevante do ponto de vista da autonomia econômica das mulheres. Segundo o IBGE (2013), viviam no Brasil 103,5 milhões de mulheres, o equivalente a 51,4% da população. Por outro lado, persistem muitas desigualdades: as mulheres continuam ganhando menos, cerca de 70% do que os homens ganham, mesmo considerando que as mulheres hoje são mais escolarizadas do que os homens; ainda são exceção em cargos importantes e de decisão, embora seja crescente o número de mulheres em algumas ocupações; e a mulher continua em setores considerados femininos que são mais desvalorizados.
No Brasil, o emprego doméstico é o principal mercado de trabalho principalmente para as mulheres negras. Apenas 28% têm carteira assinada e, destas, 72% ganham menos que o salário mínimo. Temos visto também que, em relação às mulheres negras, persiste a desigualdade de menores salários e ocupações mais desvalorizadas em relação às mulheres brancas.
Violência contra a mulher
Em relação à proteção da mulher, hoje já existem leis que a amparam, como é o caso da Lei Maria da Penha, na questão da violência. Porém, apesar dos avanços e das leis, a realidade que vemos é bastante complexa e que a lei sozinha tornou-se insuficiente para mudar a situação de violência contra a mulher. Um avanço é o número das denúncias, mas o Brasil continua como um dos países considerados como sendo um dos mais violentos, segundo o Mapa da Violência/2012. O Brasil, entre os 84 países do mundo pesquisados, consta como o sétimo em homicídios. Inclusive está em curso no Brasil uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da violência contra a mulher, que o Senado propôs para investigar o descaso em relação a este tipo de agressividade que ocorre no Brasil. Falta investimento para implementar a lei e colocar em prática uma política principalmente de prevenção contra a violência. Segundo pesquisa, a cada dois minutos, cinco mulheres sofrem algum tipo de agressão.
Mercado de Trabalho e Sociedade
As mulheres estão ocupando cada vez mais o mercado de trabalho, mas a sociedade ainda funciona como se todas as mulheres fossem donas de casa simplesmente, com tempo integral em casa. As mulheres continuam fazendo a maior parte do trabalho doméstico, do cuidado das crianças, dos idosos etc. Um dos grandes problemas é a questão da ampliação do número de vagas em creches. No Brasil, somente 18% das crianças têm acesso à creche. Isso é um problema impeditivo para a mulher acessar o mercado de trabalho e, muitas vezes, implica para a mulher tomar decisões com relação à vida profissional, redução de carga horária com redução de salário.
Ou seja, a mulher acaba tendo que fazer um malabarismo entre a sua vida particular com a vida profissional. Além do que, isso ocasiona sobrecarga de trabalho. Existe outra discussão, que é a questão do tempo social. Quando a responsabilidade fica com a mulher, como se fosse obrigação somente dela, e fica com quase todo o seu tempo voltado para o trabalho, isso significa menos tempo para participação social, para o lazer etc. Temos o grande desafio de romper essa divisão sexual do trabalho. Os homens não são os únicos provedores: hoje mais de um terço das famílias são sustentadas pelas mulheres. O trabalho doméstico e de cuidado precisa ser assumido na sociedade através das políticas públicas e pelos homens também.
Cultura patriarcal misógina
É onde vivemos. Isso significa desigualdade, ideia de mercantilização do corpo e da vida das mulheres, mulheres consideradas objetos. Aliás, uma marca dos tempos atuais é a mulher considerada mercadoria. A prostituição é entendida por alguns como um trabalho, mas para mim é uma extrema exploração e a banalização do corpo, da vida, infelizmente.
Outro aspecto importante a considerar é que o que define as desigualdades entre homens e mulheres não são somente os aspectos culturais, mas também a base material, que é a desigualdade econômica, a sobrecarga de trabalho sobre a mulher, falta de acesso a espaços de decisão. Ou seja, as mulheres continuam sendo minoria ocupando postos de decisão do ponto de vista da participação política, ainda que tenhamos uma mulher na presidência. As mulheres continuam bem abaixo da posição que deveriam ocupar na representação perante a sociedade.
Mulheres, homens, sociedade, poder público, está na hora de acordar e de valorizar a grande força propulsora deste país: as mulheres!
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