Por Patrícia Bispo para o RH.com.br
A empresa contrata um profissional e esse, por sua vez, chega para mostrar que é capaz de agregar o diferencial para o negócio. Contudo, no dia a dia, o recém-contratado demonstra certa dificuldade para se entrosar à rotina e à cultura da organização, afinal de contas tudo é muito novo para ele e até mesmo a estrutura da companhia está difícil de ser assimilado nas primeiras semanas. Isso acontece com muita frequência, quando o colaborador novato não tem a oportunidade de vivenciar uma integração - aquele tão conhecido processo que deveria não apenas servir de cartão de boas-vindas para quem chega, mas também ser uma rica oportunidade para apresentar a organização, o negócio, ser uma rica oportunidade para que o novo funcionário sinta-se acolhido e assim possa sentir-se parte integrante do time. Para falar sobre as peculiaridades do processo de integração que parece ser simples, porém não é, o RH.com.br, entrevistou Alberto Ruggiero - consultor organizacional e sócio-diretor da Mosaico Excelência em Liderança.
Segundo ele, são inúmeros os benefícios que um processo de integração gera à organização. Primeiramente, quem entra na empresa não se sente "órfão", pois passa a ter compreensão de como as coisas funcionam, o histórico da empresa, sua forma de fazer as coisas, os produtos e a própria atuação mercadológica em passará a atuar. "O processo de integração deveria ser adotado toda vez que a empresa fosse realizar uma mudança que impactaria em seus valores, ou seja, em seu DNA", defende Ruggiero ao ser indagado se a integração deve ocorrer apenas para profissionais recém-contratados. Durante a entrevista, ele sinaliza pontos fundamentais para uma integração tenha êxito e esclarece porque a área de Recursos Humanos deve estar à frente deste processe.
Alberto Ruggiero é um dos palestrantes do Seminário Virtual Engajamento e Motivação - promovido pelo RH.com.br, realizado 100% pela Internet e que se encontra com as inscrições abertas. Durante o evento, o consultor organizacional ministrará a palestra "Como gerenciar os Conflitos". Boa leitura!
RH.com.br - Por que é importante promover a integração das pessoas no âmbito organizacional?
Alberto Ruggiero - São inúmeros os benefícios que um processo de integração provoca. Primeiramente, quem entra na organização não fica órfão, pois passa a ter compreensão de como as coisas funcionam, o histórico da empresa, sua forma de fazer as coisas, os produtos, a atuação mercadológica e por aí vai. Para mim, a grande importância do processo de integrar pessoas que acabaram de entrar na organização é fazer com que não se "pise em ovos" por desconhecimento da forma de trabalho ou algum outro item que é contra seus valores, além, é claro, da questão do acolhimento do novo profissional.
RH - Quem deve conduzir esse processo é sempre a área de RH?
Alberto Ruggiero - Sim, porque como RH tem trânsito em todos os outros departamentos da companhia, nada mais lógico que seja o formulador de um programa de integração que envolva outras áreas. Além disso, é por meio dessa área que as pessoas iniciam e finalizam sua passagem por qualquer organização.
RH - O processo de integração só deve ser direcionado para os profissionais recém-contratados ou é relevante que também se direcione esse tipo de ação para quem já integra o quadro de colaboradores?
Alberto Ruggiero - O processo de integração deveria ser adotado toda vez que a empresa fosse realizar uma mudança que impactasse em seus valores, ou seja, em seu DNA. O que tenho visto é que esse processo é utilizado quase que exclusivamente para profissionais recém-contratados. Contudo, minha visão da realidade é que muitas outras companhias não chegam nem a efetuar um processo desses e, mesmo que realize, não podemos chamar de integração. Nada mais é do que meia hora de bate-papo. Isso não tem nada a ver com integrar pessoas no âmbito organizacional.
RH - Então, toda empresa deveria investir em programas ou processos de integração, independentemente do porte e do segmento?
Alberto Ruggiero - Certamente, pois como toda organização deseja e possui expectativas que o recém-contratado atue e obtenha resultados em consonância com a forma de se fazer as coisas, é preciso mostrar a quem está entrando, como as coisas funcionam. Cada empresa tem seu "jeitão", só que ninguém tem bola de cristal e deixar que o recém-contratado perceba o funcionamento da companhia pode ser demorado ou demasiadamente tarde demais após ter realizado uma bobagem que possa comprometer seriamente sua imagem.
RH - Em sua visão, integrar pessoas ao contexto corporativo é um processo complicado?
Alberto Ruggiero - Não deveria ser um processo complicado. Porém, em muitas ocasiões, acaba sendo. Isso ocorre porque a etapa anterior, recrutamento e seleção, não foi bem realizada. Como assim? Muitas empresas se esquecem de efetuar um alinhamento entre os valores dela com os valores do candidato ou do recém-contratado. Não é porque um determinado candidato possui os requisitos técnicos e comportamentais para determinada função que ele obterá sucesso. Se não tiver alinhamento com os valores organizacionais, será um problema que a empresa terá que enfrentar. Esse profissional passa a questionar determinados assuntos que não lhe dizem respeito ou que não irão mudar, porque fazem parte do DNA daquela empresa. E isso torna o processo complicado.
RH - Quais são os principais impactos que os processos de integração costumam gerar?
Alberto Ruggiero - Positivamente falando, profissionais mais bem preparados, informados e seguros, pois estão a par de vários detalhes importantes que o ajudarão nos primeiros meses de convívio, já que é tudo novo. Negativamente falando, a impaciência da área contratante já que deseja que o profissional contratado inicie o mais rápido possível.
RH - O que podemos considerar como etapas fundamentais para uma integração?
Alberto Ruggiero - Informações sobre a empresa, vídeos institucionais, questões de segurança, conversa com gestores de diversas áreas, conhecimento de toda a empresa e seu processo produtivo, visita às filiais, caso existam. Creio que esses pontos mencionados dão uma boa medida do funcionamento de qualquer organização.
RH - Quais são as principais dificuldades que as empresas sinalizam, quando realizam uma integração?
Alberto Ruggiero - As principais dificuldades dizem respeito a não colaboração das áreas, pois muitas delas desejam que o profissional inicie o mais rápido possível, porque foi para isso que ele foi contratado. Falando de outra forma, a principal dificuldade reside na falta de compreensão e no desconhecimento da importância de um processo de integração aos novos integrantes. Em parte ocorre nem por má vontade, mas por desconhecimento mesmo.
RH - O que pode interferir e até mesmo comprometer a integração organizacional?
Alberto Ruggiero - Não fazê-la ou fazer de um modo "só para inglês ver". Talvez seja melhor assumir que o processo não existe do que fazê-lo de um modo que cause mais insegurança ao recém-contratado. Há muitas organizações que acreditam, como já mencionei, que só é preciso meia hora de bate-papo e pronto, o profissional está integrado. Enquanto as empresas não planejarem adequadamente esse processo, a conta virá mais para frente e será mais salgada.
RH - Qual a forma mais eficaz para identificar se um processo de integração está ou não atendendo às necessidades da empresa?
Alberto Ruggiero - Caso a companhia trabalhe com entrevista de desligamento, poderá obter informações valiosas acerca de um processo de integração bem conduzido. Geralmente, quem acaba sendo desligado por questões comportamentais - 80% das demissões - comenta que se houvesse uma integração mais bem conduzida, muitos conflitos que ocorreram durante sua trajetória na empresa teriam sido evitadas.
RH - A partir do processo de integração pode-se, por exemplo, implementar novas ações em uma empresa?
Alberto Ruggiero - Conheço o caso de uma empresa com atuação nacional e internacional no qual, apesar de ser conhecida pelo público, os recém-contratados gostariam de visualizar suas conquistas devido sua reputação. Dessa forma, essa companhia criou um vídeo institucional que, além de mostrar os diversos trabalhos realizados, reforçou a questão dos valores. Não há a melhor forma de se fazer a integração dos recém-contratados. Cada empresa terá que achar a sua e adaptá-la às circunstâncias e dinâmica atual.
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