Os taxistas brigam com os motoristas do Uber. Os hotéis reclamam do Airbnb e operadoras de telefonia, do WhatsApp. O que todos tem em comum? A chegada da tecnologia mudando toda a lógica dos negócios. E fique atento, as novidades tecnológicas podem tirar também seu emprego nos próximos anos.
E os números só ajudam a comprovar. A taxa de desemprego no Brasil fechou o mês de dezembro em 6,9%, a maior já registrada para este mês desde 2007. Com os dados de dezembro, o índice encerrou o ano de 2015 no patamar de 6,8%. E não pense que isso diz respeito apenas à crise vivida pelo Brasil. Pelo menos 7 milhões de empregos (isso mesmo, 7 milhões) podem ser perdidos em apenas cinco anos por causa das transformações tecnológicas e da economia mundial como um todo. Os dados assustadores fazem parte do relatório do Fórum Econômico Mundial, indicando que está em curso a quarta revolução industrial mundial.
Depois da máquina a vapor, do motor elétrico e da mecanização, vem a era da digitalização na indústria. Mas não se trata apenas do chão de fábrica e sim da digitalização de processos nos setores administrativos. Ou seja, softwares de gestão tirando emprego de um exército de pessoas que hoje está sentado nos escritórios das grandes companhias em todo o mundo.
Fim do vínculo
Claro que há uma questão conjuntural em curso, com turbulências em todas as partes do planeta ajudando a eliminar vagas, explica o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Giuseppe Cocco. “Mas a transformação estrutural é imensa e tudo indica que trabalho e emprego devem se dissociar”, afirma.
Dessa forma, haverá trabalho mas isso não implicará em vínculo empregatício. “Isso exigirá mais do profissional, que terá de estar em formação permanentemente, a fim de garantir trabalho”, explica
As questões trabalhistas também precisarão ser revistas dentro da nova realidade, para que não haja uma precarização e aumento da desigualdade. “O modo de organização da exploração do trabalho fora do emprego precisa ser revista na chamada ‘sharing economy’ [economia compartilhada]”, acrescenta Cocco.
E tudo isso precisa ser feito rapidamente, porque as mudanças devem ocorrer em cinco anos. “Isso nos mostra a velocidade das mudanças e porque é chamada de quarta revolução”, diz o consultor de gestão Gilberto Miyamoto. Segundo ele, essas tecnologias disruptivas como Uber e a internet das coisas vão impactar tremendamente o mercado de trabalho e não dá para mensurar os reflexos exatos disso. “Mas que no Brasil pode ser ainda pior porque temos uma crise em curso e o impacto será especialmente no setor administrativo, onde há muitas pessoas dentro das empresas.”
Por isso, os profissionais precisam se preparar e detectar quais as profissões que estarão em ascensão quando as empresas tiverem seus processos automatizados. “A demanda por analistas de dados deve crescer, porque são eles que vão administrar todas as informações que circulam nas redes empresariais”, analisa.
Mundo digital
Nesse ponto, contará mais a disposição e a capacidade de cada indivíduo para aprender, muitas vezes sozinho, e evoluir. E pode estar na própria tecnologia a saída para a mudança, uma vez que cresce a oferta de cursos grátis ou à distância via web, de acordo com os especialistas.
E não é porque as novas gerações são mais ligadas às novas tecnologias que terão mais condições de se adaptar. “Pelo contrário, muitos estudantes são conectados, mas ficam jogando e interagindo com amigos pela rede social, mas não sabem como fazer negócios pela rede mundial”, explica o consultor de carreira da Thomas Case & Associados, Eduardo Bahi.
O desafio agora se chama preparação. E isso está na educação. “É preciso que o currículo das escolas seja mudado e, para isso, é essencial se discutir mudanças dentro da Base Nacional Comum Curricular”, afirma o fundador da instituição de ensino Eduinvest, Marco Gregori. Para o especialista em educação, a chave da mudança é o aprendizado contínuo ao longo da vida. “Toda mudança dá medo, mas é importante que ela aconteça”, diz Gregori, acrescentando que é fundamental foco para lidar com o excesso de informação e saber usar tudo aquilo ao seu favor. Segundo ele, sete de cada dez crianças que estão nas escolas hoje vão seguir carreiras que ainda não existem. “E para se dar bem precisarão ser rápidos, adaptáveis e empreendedores”. Mas isso não pode estar restrito às escolas privadas. “E o enfoque não pode ser só a criança, mas sim todo trabalhador”, diz.
Fonte: Diário do Comércio, Indústria e Serviços, por Anna França
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