A discussão sobre o bullying contra crianças e adolescentes, especialmente nas escolas, ganhou grande destaque na última década. Comprovou-se, finalmente, que a agressão repetida e sem motivos contra alguém pode causar danos irreparáveis à autoestima e até mesmo, em casos extremos, custar a vida desse indivíduo.
O debate tornou-se amplo e aberto nas escolas e entre as famílias. Mas pouco ainda se fala sobre o bullying corporativo, um mal que infelizmente é encontrado em fartura no ambiente de trabalho. Sua definição é a mesma do que acontece nas escolas: o bullying no trabalho é um comportamento agressivo (físico, verbal ou psicológico) excessivo que acontece repetidamente contra um profissional ou grupo de trabalhadores, colocando em risco sua saúde e sua segurança. É muitas vezes usado como uma forma de exercício de poder e conta com um grande aliado: o medo de o trabalhador perder o emprego.
Não estamos falando de brincadeiras sem graça feitas aleatoriamente, mas sim de comportamentos abusivos que de alguma forma ferem o outro, como boicotar constantemente o trabalho de alguém, inventar fofocas, isolar colegas propositalmente, inventar apelidos pejorativos ou fazer piadas com objetivo de ferir a autoconfiança alheia.
A motivação para o bullying entre adultos é bastante variada. Em alguns casos, um comportamento infantil é causado por ciúme, baixa autoestima ou receio por causa dos êxitos de outras pessoas. Mas, na maioria das vezes, trata-se de um quadro de mentes doentes que precisam ser olhadas como tal.
Causadores de bullying são pessoas que precisam de tratamento psiquiátrico e devem ser acompanhadas de perto já que, ao ascenderem a postos altos na organização, elas têm o poder de destruir a vida das pessoas que lideram. Empresas bem estruturadas e com boas práticas de gestão de pessoas tendem a repelir esse tipo de comportamento agressivo, que pode ser facilmente identificado em avaliações 360° ou pesquisas de clima. O bullying precisa de ambiente propício para sobreviver.
Quando o monitoramento é constante, a área de recursos humanos consegue rapidamente fazer a leitura correta da situação e agir, conversando com o profissional agressor e com a vítima – ou com as vítimas -, e tomando medidas mais drásticas se houver necessidade. O problema é que, na maioria dos casos, a situação é identificada somente depois de já haver acontecido um bom estrago.
Com alguma frequência chegam ao meu escritório executivos de alto escalão indicados pelo CEO ou pelo RH como um profissional que “tem problemas com a equipe” e que “precisa de um coaching”. Não demoro muito a perceber, em alguns casos, que tais gestores são típicos causadores de bullying – tanto por suas reações nas conversas comigo como também a partir das entrevistas que faço com os pares, superiores e subordinados como parte do processo. O coaching tem grande poder de ajudar indivíduos no seu desenvolvimento, mas mentes doentes não se resolvem apenas com coaching, lamentavelmente.
Há quem faça a associação do agressor adulto ao bullying na infância. Ou seja, a pessoa que hoje humilha colegas ou subordinados no ambiente de trabalho pode ter sido um agressor ou vítima na infância. Mas os especialistas nesta área dizem que não é possível fazer essa associação direta. O que é possível ressaltar é que existem muitos profissionais bem-sucedidos e competentes tecnicamente que apresentam uma estrutura psicológica e comportamental desequilibrada, apresentando comportamento tiranizador ou opressor em sua forma de gestão.
O importante é que as empresas se conscientizem desse problema, que é muito sério e recorrente, e deem abertura para que as vítimas se sintam seguras para se manifestar. Que sejam rápidas e não deixem que tais “pragas” contaminem o ambiente ou causem danos irreversíveis a alguns de seus colaboradores.
Quando os funcionários em posições “mais fracas” entendem claramente que determinados comportamentos que os humilham ou intimidam não podem ser aceitos, elas perdem o medo de denunciar. Infelizmente, há ainda algumas organizações que parecem encorajar tais atitudes. A sociedade, definitivamente, precisa começar a ser intolerante com comportamentos predatórios.
(*) Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
Valor Econômico, por Vicky Bloch
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