“As pessoas não deixam seus empregos, elas deixam seus chefes.” O aforismo é salientado em um relatório sobre a função dos gestores na identificação de sinais de estresse, ansiedade e depressão nos funcionários. Um estudo intitulado “Leading on Mental Wellbeing” (Liderança em Bem-Estar Mental), publicado pela Business in the Community (BITC), estimula esses executivos a aprender a reconhecer esses sinais em suas equipes.
David Tall, que ocupa um cargo de gerência no Royal Mail, o serviço postal do Reino Unido, entende a importância disso. Uma crise de depressão que ele descreve como “ter sido envolvido por um cobertor, onde tudo ficou escuro” o deixou desatento no trabalho. Tall não deu importância, e a pressão aumentou. Mas então, a chegada de um novo e compreensivo gerente deu a ele a chance de se abrir sobre seus problemas. “Não fosse por ele, minha condição mental teria piorado. Eu teria mergulhado ainda mais no desespero”, afirma.
A BITC sugere que os gestores desenvolvam um estilo acessível. “Faça perguntas simples, abertas e sem julgamento sobre a saúde mental dos indivíduos”, diz o relatório. Ele também encoraja os executivos mais graduados a apoiar os gestores intermediários, que também se sentem vulneráveis ao estresse. Uma pesquisa divulgada no ano passado pela Universidade Columbia constatou que esses profissionais precisam absorver o descontentamento dos que estão abaixo e acima na hierarquia, e se sentem impotentes para realizar qualquer mudança.
Um executivo da área de serviços financeiros que passou por uma crise aguda de ansiedade e precisou tirar licença do trabalho fala da importância de encontrar o momento, o tom e o lugar certo para colocar tudo para fora: “É difícil falar sobre isso. As pessoas precisam de algo que facilite esse processo.”
Reconhecendo o impacto da saúde mental sobre o trabalho, empresas estão oferecendo seminários sobre saúde, além de programas de ajuda aos funcionários para prepará-los para lidar melhor com o estresse e a ansiedade. Não de trata de altruísmo, e sim da compreensão de que trabalhadores saudáveis são uma coisa boa para a saúde financeira de uma empresa. Há também entre os empregadores uma preocupação com ações litigiosas movidas por funcionários e com os danos à reputação da marca da empresa que venham a afetar o recrutamento.
Guy Standing, autor de “The Precariat: The New Dangerous Class”, afirma que a percepção sobre os problemas relacionados à saúde mental pode ter aumentado, mas o estigma persiste. Das pessoas que tiraram licença médica por causa do estresse no trabalho, 95% forneceram um outro motivo para sua ausência, diz o estudo da BITC. Metade dos trabalhadores disseram que se sentem desconfortáveis em falar sobre sua saúde mental com os patrões.
Alguns, inclusive, temem que tecnologias como as pulseiras de monitoramento Fitbit, que estão sendo usadas por algumas companhias para encorajar a saúde física e evitar doenças em seus funcionários, possam se tornar invasivas. Will Davies, autor de “The Happiness Industry”, afirma que vivemos em uma época na qual é possível entender os problemas do local de trabalho por meio de dados objetivos. “A tecnologia ainda é desajeitada, mas vai se normalizar com o tempo”. Mas na medida em que a tecnologia avança, ele pergunta: Como vamos reagir ao fato de termos nossos sentimentos analisados?
Fonte: Valor Econômico / Financial Times, por Emma Jacobs
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