Entre os várias nomenclaturas usadas no universo laboral, ao longo dos séculos XX e XXI, algumas deverão sofrer alterações substanciais. Expressões como empregabilidade, vínculo trabalhista, previdência, aposentadoria, renda vitalícia, férias, jornada de trabalho e identidade corporativa precisarão ser revistas à luz dos impactos do que tem sido chamado de “economia Uber”.
Pelo menos é o que já podemos antecipar considerando as conclusões e provocações do pesquisador Steven Hill, especialista em crescimento econômico da New America Foundation, dos Estados Unidos. Em seu livro “Raw Deal”, ele alerta para os riscos do que ele chama de “precarização do trabalho”.
Para pessoas desempregadas ou aqueles que desejam ampliar sua renda — especialmente em economias em crise, como é o nosso caso —, trabalhar como motorista do Uber pode ser uma forma de obter uma renda adicional. “Mas esse trabalhador não terá benefícios trabalhistas como seguro desemprego, plano de saúde ou abono salarial”, alerta Hill.
Sua proposta é a de criar um Plano de Seguro Universal que garanta benefícios tanto para trabalhadores temporários como freelancers. Dessa forma, quem presta serviços para mais de uma empresa ao mesmo tempo teria benefícios de forma proporcional ao número de horas trabalhadas em cada emprego.
Sua proposta aos responsáveis pelas políticas públicas, nos mais diferentes países, é de que “a criação de um Plano de Seguro Individual (Individual Security Account) para todos os trabalhadores pode equacionar essa alteração nos vínculos trabalhistas.” Ele prossegue dizendo que “se torna uma conta na qual cada empresa que contrata pessoal temporário vai precisar depositar uma quantia relativa à quantidade de horas de serviços prestados. Esse tipo de seguro individual, portátil, é o que se pode chamar de seguro universal. Cada trabalhador o usa para ter acesso aos benefícios que teria direito caso fosse contratado regularmente.”
Estudos bem atuais mostram que muitas fábricas de automóveis nos Estados Unidos já contratam sua mão de obra de forma temporária. Esse índice pode chegar a 50% dos empregados. Embora realizem as mesmas tarefas dos regularmente contratados e cumpram jornada similar, recebem a metade do salário e não têm nenhum benefício social.
Segundo Steven Hill, a “uberização” da economia “vai ampliar o número de empresas que utilizam plataformas digitais para contratar e demitir, facilmente, a mão de obra. As empresas querem uma mão de obra que possam ligar e desligar da mesma forma que fazem com a TV. Isso acaba com a dimensão social do mercado de trabalho e destrói a relação do empregado com o empregador”.
Essas são algumas das questões que já devem fazer parte das agendas de governos, de sindicatos, de programas previdenciários e de todos aqueles com alguma responsabilidade com o futuro do mercado de trabalho. Também empresários e profissionais de Recursos Humanos devem se debruçar sobre o tema. Além, é claro, de todos aqueles que estão atentos às suas carreiras. Tanto os atuais trabalhadores quanto quem ainda se prepara para ingressar no mercado.
(*) Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria.
Fonte: Valor Econômico, por Renato Bernhoeft (*), 26.07.2016
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