A boa notícia é que você foi promovido. A má notícia é que você agora é gerente dos seus pares, o que inclui pessoas que você descreveria como amigos. Como gerir aqueles para quem você já contou confidências pessoais?
Liana Davey, psicóloga e fundadora da 3 coze, uma consultoria de equipes executivas, recomenda ter uma conversa de “reinício” com os membros do time. Algo na linha do: “Eu não vou deixar de considerá-lo meu amigo, mas como gestor eu preciso definir a nossa relação. Como fazemos isso funcionar?” Ela acredita que a estranheza desse cenário afasta pessoas mais empáticas de se candidatar a promoções, ao mesmo tempo em que isso “nem passaria pela mente de alguém mais focado ou disposto a passar por cima dos seus antigos pares”.
Robert Sutton, professor de ciência da administração e engenharia na Universidade de Stanford e autor do livro “Bom Chefe, Mau Chefe”, avisa que é inevitável sofrer um pouco de provocação da sua equipe. Mas se a situação continuar por mais de algumas semanas, você está encrencado.
Os primeiros meses devem ser usados ouvindo os colegas, recomenda Katy Tynan, autora de “Survive Your Promotion” (“Sobreviva à Sua Promoção”, em tradução livre). “Infelizmente muitos novos gerentes não recebem o treinamento apropriado e acham que precisam afirmar sua autoridade e sair dando muitas ordens já no primeiro dia”. Eles passam muito tempo tentando dizer às pessoas o que elas precisam fazer, ao invés de ouvir e aprender com elas.
Uma boa estratégia é passar os primeiros 30 a 60 dias no modo aprendizado. Conheça as pessoas na sua equipe e se esforce para formar um entendimento sólido das habilidades e motivações dos membros do time — ao invés de listar seus atributos como amigos.
É preciso haver um pouco de distanciamento social entre você e seus antigos colegas, recomenda Sutton. A amizade pode sobreviver e pode fazer de você um gestor melhor e mais empático porque você se importa com o bem-estar das pessoas. Mas é preciso ter em mente que sempre haverá a possibilidade de chamar a atenção delas por causa de um problema ou, pior ainda, de precisar demiti-los. É uma via de mão dupla: como antigo colega, há a tendência de ter a culpa e os resmungos direcionados a você com mais frequência, diz ele.
O que fazer se você sabe que seus amigos estão usando ”atalhos” pouco recomendados no trabalho? É preciso julgar como isso afeta o desempenho deles, diz Sutton, e chamar a atenção das pessoas onde realmente interessa, ao invés de se fixar em coisas pequenas. Katy aconselha ter uma conversa informal com o amigo e deixá-lo ciente que, como par, esse comportamento não era de sua responsabilidade — mas agora que você é o chefe, você vai precisar lidar com ele. Dê um tempo para que ele possa corrigir os erros, mas avise que se ele continuar com esse tipo de atividade, você terá que resolvê-la de forma oficial. Se ele não corrigir o comportamento, é preciso agir.
Ela adiciona, no entanto, que é importante reconhecer ao máximo as coisas boas que as pessoas estão produzindo, e não focar apenas no negativo.
Fonte: Valor Econômico / Financial Time, por Emma Jacobs, 01.07.2016
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