Muitas empresas já investem para se posicionar como uma marca empregadora forte e de boa reputação com a intenção de atrair novos talentos. Não são tantas, no entanto, que se voltam com o mesmo esforço para os próprios funcionários, que podem influenciar e muito — de forma positiva ou negativa — a visão que pessoas de fora têm da organização.
O tema apareceu no 1º Fórum de “Employer Branding” do Love Mondays, site de carreira em que funcionários podem avaliar aspectos da empresa onde trabalham, realizado hoje, em São Paulo. A plataforma já acumula 75 mil organizações avaliadas.
Uma pesquisa que analisou 200 mil avaliações de usuários apontou que salários e benefícios e oportunidade de progressão na carreira são os aspectos mais criticados. Outro ponto mal avaliado atualmente é a falta de qualidade de vida. “Hoje vemos muita gente fazendo o trabalho dos outros e reclamando da carga excessiva”, diz Luciana Calletti, CEO do Love Mondays. Quando elogiam os empregadores, o que mais conta é o ambiente de trabalho, os benefícios, a competência dos colegas e a progressão de carreira.
Gil Van Delft, presidente da empresa de recrutamento Page Group, destaca que os aspectos mais valorizados por profissionais variam de acordo com o momento na carreira. Uma pesquisa da recrutadora com mais de 4,5 mil candidatos, no entanto, encontrou três pontos em comum a todos os públicos: o escopo do trabalho, o salário e a boa reputação da companhia. “Mas ter tudo isso não faz sentido se você não comunica de forma certa”, diz.
Hoje, só 6% dos candidatos usam apenas as informações obtidas durante o processo seletivo na hora de tomar a decisão de trocar de emprego. “Há dez anos, eram 98%”, diz Van Delft. Os candidatos estão recorrendo aos sites das empresas, à imprensa, às redes sociais e a referências de colegas que atuam ou atuaram na companhia. “Na hora de trabalhar a marca empregadora, é importante focar também nos próprios funcionários”, diz.
O diretor de RH do Itaú Unibanco, Sergio Fajerman, responsável pelo BBA e pelos negócios de atacado, explica que a forma como a empresa se comunica com os clientes, com os candidatos e com os funcionários precisa ser coerente e consistente. O Itaú Unibanco vem investindo, recentemente, no recrutamento de profissionais jovens por meio da presença mais forte em cursos de graduação e MBA, programas de estágio corporativo e de férias e iniciativas como o Cubo, espaço de coworking para startups.
Para garantir que o ambiente interno fosse condizente com o novo posicionamento da marca, no entanto, o banco também fez campanhas com os funcionários com a intenção de tornar o clima mais aberto a contribuições de profissionais de todos os níveis, usando frases como “o melhor argumento é o que vale” ou “carteirada não vale”. “Tentamos empoderar as pessoas para elas colocarem suas ideias na mesa”, diz Fajerman.
A farmacêutica Takeda ficou em primeiro lugar no ranking do Love Mondays, divulgado no início do ano, de empresas com melhor avaliação pelos funcionários no site — uma surpresa para a própria Luciana, CEO do Love Mondays, que não conhecia a companhia. A empresa, que completou 235 anos desde a fundação no Japão e hoje conta com dois mil funcionários no Brasil, não tem como estratégia investir na marca da empresa, e sim nos medicamentos de nomes conhecidos, como Neosaldina e Nebacetin, de acordo com a diretora de RH da Takeda, Veronica Falconer. “O EVP [Employee Value Proposition, ou proposta de valor para o empregado] está sendo construído de dentro para fora”, diz.
Tanto Veronica como Flavia Moreno, gerente de comunicação, perceberam que, sempre que a empresa ficava bem colocada em rankings de gestão de pessoas como o do Love Mondays, os funcionários compartilhavam essa informação nas redes sociais. A empresa resolveu incentivar ainda mais a prática, com a criação de uma hashtag #WeLoveTakeda e a disponibilização de plaquinhas para as pessoas usarem nas fotos como adereços. Segundo Flavia, a companhia, de perfil mais conservador, ainda está começando a trabalhar a marca empregadora com o público externo — mas já conta com a ajuda dos funcionários.
O uso de hashtags também faz parte da estratégia interna da varejista on-line Netshoes, onde elas foram usadas para disseminar os valores da companhia. Com 16 anos de negócio e dois mil funcionários — com idade média de 28 anos —, a empresa fez um longo trabalho de pesquisa para identificar o que seriam os valores da companhia, que foram divulgados no ano passado no formato de hashtags como #DonodoNegócio, #RomperPadrões e #RápidaComoUmClick. A companhia conta, inclusive, com uma agência interna que desenvolve as campanhas. “A empresa tem que se comunicar de um jeito que faz sentido para o público. O olhar que o marketing tem para o consumidor, a gente se propõe a fazer com o colaborador”, diz o gerente de desenvolvimento organizacional, Thiago Veras.
Fonte: Valor Econômico, por Letícia Arcoverde, 06.07.2016
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