O número de empregadores diminuiu 8,6% em um ano no Brasil: 351 mil pessoas tiveram que fechar ou reduzir seus empreendimentos, estimulando ainda mais o aumento do desemprego no País.
No primeiro trimestre de 2016, a quantidade de empregadores caiu para 3,725 milhões, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A diminuição do número de pequenas e médias empresas é uma das causas desse fenômeno, disse Denise Delboni, professora de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). “Os negócios de menor porte são maioria e foram muito afetados pela crise”, afirmou.
A especialista analisa que muitos empreendedores podem ter trocado empresas pequenas, “como um escritório que contrate três ou quatro funcionários”, pelo trabalho autônomo. A medida seria uma forma de “escapar” do pagamento de tributos, como encargos sociais para os funcionários da firma.
Exemplo disso, é que, neste ano, cresceu o número de empreendedores que trabalha como conta-própria, sem empregados assalariados. Na comparação entre o primeiro trimestre do ano passado e igual período de 2016, houve incremento de 6,5% (1,413 milhão de pessoas) no grupo, que conta, agora, com 23,187 milhões de integrantes.
O avanço dos autônomos também é intensificado pelo crescimento do desemprego. “Muita gente perde o trabalho e decide abrir empresas, em grande parte como conta-própria. Acaba sendo a única saída em um mercado ruim”, acrescentou Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia.
Já Delboni afirmou que os atuais deslocamentos no mercado de trabalho têm efeitos negativos para a economia. Algumas das consequências seriam a ampliação do desemprego, a piora da arrecadação pública, o incentivo à criação de “formas alternativas” de contratação, a precarização do trabalho e o recuo dos salários.
De acordo com os entrevistados, o movimento deve continuar nos próximos meses: diminuição do número de empregadores e aumento na quantidade de autônomos. “Dependendo do que acontecer no âmbito político, a piora no mercado de trabalho pode perder força no segundo semestre”, ponderou Balistiero.
Ganhos em queda
A trajetória dos rendimentos, por outro lado, é igual para empregadores e autônomos. Na comparação entre os primeiros trimestres de 2015 e 2016, houve queda nos ganhos de 4,4% para o primeiro grupo e de 3,9% para o segundo, segundo a PNAD.
O motivo, mais uma vez, é a crise econômica. “Com a recessão e a inflação, nós vamos retomar o nosso nível de renda de dez anos atrás só em 2020. E, para que isso aconteça, o Brasil precisa crescer 2% ao ano até lá”, apontou Balistiero.
O rendimento médio do empregador no Brasil, em 2016, é de R$ 5.042. Para as pessoas que trabalham como conta-própria, os ganhos mensais ficam em R$ 1.510.
Desemprego em alta
A consequência principal da diminuição de empregadores é o recuo do número de empregados. Segundo a PNAD, 90,639 milhões de pessoas tinham trabalho no primeiro trimestre, queda de 1,5% (1,384 milhão de brasileiros) ante igual período do ano passado.
O recuo no número de ocupados, aliado ao aumento da procura por postos de trabalho, levou a taxa de desemprego, medida pela PNAD, a 10,9% nos primeiros três meses deste ano. Entre janeiro e março de 2015, o índice estava em 7,9%.
A quantidade de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada caiu 4,0% na comparação com igual trimestre do ano passado. O recuo para trabalhadores não registrados foi de 3,3%.
No setor público, a diminuição no contingente também foi de 3,3%. Por outro lado, foi registrado aumento (+3,4%) no número de trabalhadores domésticos no País.
Já a separação for setores da economia mostra quedas na indústria geral (-11,5%, ou 1,5 milhão de pessoas) e na área de informação e comunicação (-6,3%, ou 656 mil pessoas). A alta mais expressiva foi registrada no setor de transporte, armazenagem e correio (+4,3%, ou 184 mil pessoas).
Fonte: Diário Comércio Indústria & Serviços, por Renato Ghelfi, 04.05.2016
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