Para além do discurso politicamente correto, a igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho é também lucrativa. De acordo com estudo da consultoria McKinsey, a paridade entre os gêneros elevaria em US$ 28 trilhões o produto interno bruto (PIB) mundial até 2025.
No caso do Brasil, a economia ganharia US$ 850 bilhões ao longo dos próximos dez anos –o equivalente à soma das regiões Nordeste e Sul do país–, ou um crescimento de 30% do PIB nacional.
Isso ocorre porque a discriminação impede que a mulher atinja todo seu potencial no trabalho. Uma funcionária vítima de violência doméstica, por exemplo, falta mais ao trabalho e apresenta uma produtividade menor.
Atualmente, as mulheres são metade da população brasileira, compõem 44% da força de trabalho e detém 35% do PIB. A discrepância entre os números acontece principalmente porque elas têm participação menor na mão de obra, tendem a se concentrar em setores menos produtivos, como agricultura, e muitas trabalham em tempo parcial, afirma Mariana Donatelli, gerente sênior da McKinsey.
Os dados foram discutidos nesta quarta-feira (25), durante a 5ª edição do Fórum Mulheres em Destaque, organizado pela CKZ Eventos com apoio da ONU Mulheres, do Insper e da Fundação Getulio Vargas, entre outras instituições, na Fecomércio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo).
A pesquisa baseou-se em 15 indicadores, como participação da mulher na força de trabalho e nível de escolaridade, para criar uma escala de 0 a 1 de igualdade, em que 0 é o mais desigual.
A pontuação do Brasil no ranking de igualdade de gênero foi de 0,66, dentro da média da América Latina, cuja pontuação foi de 0,64. A região melhor colocada foi América do Norte e Oceania, com 0,74 pontos.
O desempenho brasileiro foi pior nos quesitos diferença de salário pago para homens e mulheres pela mesma atividade, trabalho não remunerado (atividades domésticas), e representação política. Em todas essas categorias, o nível de desigualdade foi considerado extremamente alto.
“Quando perguntamos às empresas se elas pagam salários diferentes, todo mundo diz que isso é impossível, que seria discriminação. Mas quando você olha para uma base de dados, de fato há uma dispersão, por razões como a mulher negocia menos sua remuneração”, afirma Tracy Francis, sócia-diretora da McKinsey. Para ela, a desigualdade acontece de forma inconsciente nas empresas, e faltam dados que mostrem de modo objetivo o problema.
“Se fosse uma resistência ativa, seria mais fácil abordar a questão”, diz Francis.
Outra barreira para a igualdade no cenário brasileiro é de que o tema não faz parte da agenda de muitos presidentes de empresas. Se a questão não é definida como uma prioridade pela liderança, ela não avança, e acaba sendo tratada como um assunto secundário pelas áreas de recursos humanos.
O país foi bem na proporção de mulheres em cargos profissionais e técnicos, no nível de escolaridade, na inclusão digital, na proporção entre sexos no nascimento (não há preferência por filhos homens) e no casamento infantil.
A pesquisa foi a primeira a ligar indicadores sociais, como violência, ao mercado de trabalho. A conclusão é de que a igualdade profissional não acontece se não houver também melhorias em questões como mortalidade materna e representação política.
A militância das jovens, simbolizada em ações como a campanha #AgoraÉQueSãoElas e #PrimeiroAssédio, é interpretada como um bom sinal por Francis, mas não suficiente para mudar o cenário. “É difícil prever, mas se a gente abre o funil de líderes, com mais mulheres na base, elas vão naturalmente subindo mais. Ainda teremos, porém que tomar ações para retê-las, porque aos 20 você pensa diferente do que aos 40 [quando têm família, por exemplo].”
Cargos de chefia
A presença de mulheres na alta hierarquia das empresas é baixa e está estagnada, disse a professora Lígia Paula Sica, coordenadora do grupo de pesquisas em direito e gênero da FGV, durante o painel de abertura do fórum. Um levantamento com base no número de conselheiras e diretoras executivas mostrou que a taxa permaneceu mais ou menos constante nos últimos dez anos.
De acordo com dados de 2012 (os mais recentes disponíveis), 51% das companhias brasileiras não têm nenhuma mulher no conselho administrativo, e 73,2% não têm nenhuma na diretoria executiva.
“Ainda não é a vez delas. Não estamos em franca ascensão”, afirmou Sica.
A pesquisadora apontou também que, entre as mulheres que ocupam altos cargos, metade não é casada e não tem filho. Já entre os homens, esse percentual é de 18%. “Isso significa que as mulheres galgam esses postos sem apoio familiar.”
Sica defendeu práticas como cotas para mulheres em cargos de liderança, metas de diversidade de gênero no recrutamento, ampliação da licença-paternidade e “humanização” das ações do RH, que devem considerar cada funcionário individualmente, em vez de tratá-los a partir de pressupostos como “mulheres são delicadas”.
Fonte: Folha de São Paulo, por Fernanda Perrin, 25.11.2015
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