Nessa terça feira (10/11), estive em um evento da HSM fazendo uma palestra sobre liderança. No final de minha apresentação, durante a sessão de perguntas e respostas, um tema ganhou enorme destaque: a dificuldade de achar tempo para se dedicar a vida pessoal neste momento em que as pressões são cada vez maiores no trabalho. Com uma ou outra variação, as perguntas sempre acabavam na mesma toada: como alcançar o famoso equilibro entre qualidade de vida e carreira?
A questão é pertinente. Vivemos uma época que as pressões profissionais são intensas. A crise exige respostas rápidas e diferentes, seja você um gerente, um coordenador ou um CEO. A maneira como você dá ou dará essas respostas pode significar sua promoção, a sobrevivência na empresa ou mesmo a sua saída . Por outro lado, já existe uma conscientização da necessidade de cuidar do bem estar. E de arrumar tempo para isso. Basta olhar para a quantidade de academias, SPAS urbanos e terapias alternativas surgindo no mercado – isto sem falar do grande número de aplicativos que gerenciam a qualidade de vida, prometem melhorar o sono e te deixar mais zen.
Convivo com essa necessidade de equilíbrio há um bom tempo. Sempre fui muito focado em resultado e nunca estabelecia limites para a carga de trabalho. Depois de um bom tempo foi que reconheci a importância de equilibrar as diferentes dimensões da vida. O engraçado é que percebi que a coisa não estava indo bem quando tentava, justamente, separar a vida profissional da pessoal. Sabe aquela história de desligar a rádio profissional no momento em que você deixa o trabalho? Pois é. Eu não conseguia. Eu até tentava, mas o efeito era o oposto do que eu pretendia. Quando eu chegava em casa, ficava com uma sensação de culpa por não ter realizado todas as tarefas que estavam na minha lista. No fim de semana, minha frustração era a mesma. Tentava relaxar, mas minha mente continuava “martelando” os desafios profissionais. Assim, quando a segunda-feira chegava era como se eu não tivesse tido o sábado e o domingo.
Foi quando tomei a decisão de fazer as duas dimensões que competiam pelo meu tempo e energia trabalharem conjuntamente, integradas. Aboli esse conceito de vida profissional e pessoal e passei a tratar todos os meus desafios e atividades como parte integral da minha vida ! Estabeleci algumas regras para a harmônica convivência entre essas duas dimensões:
1. Mesmo no final de semana, se tiver de trabalhar ou responder a um e-mail importante, dedico um tempo específico da minha agenda a isto. É utopia não estar conectado. É ainda pior olhar os emails e não respondê-los. A saída é estabelecer horários específicos para as tarefas de modo a não contaminar todo o final de semana . O mesmo vale para viagens de férias. Procuro olhar e-mails na parte da manhã e dedicar uma hora para atuar naqueles verdadeiramente urgentes e importantes, antes de passear com a família .
2. Estabeleço metas anuais para evolução na dimensão profissional e pessoal. Exemplos são: um curso novo de coaching ou liderança; ou a contratação de um personal trainer para me ajudar a aprimorar meu futebol (sim, existe um personal soccer coach). Jantar uma vez por semana com a esposa e/ou acompanhar os jogos de futebol do meu filho; ou dar um escapada para ir ao cinema numa quarta-feira às 18hs. Procuro avaliar minha performance nessas metas pessoais e profissionais a cada dois meses. Assim, dá tempo de mudar o que não está funcionando antes de se lamentar no fim do ano por aquilo que não realizou.
3. Uma vez por ano tiro férias de 10 dias, no mínimo. Procuro lugares mais isolados ou países de culturas diferentes . Esse tempo é importante para recarregar as baterias, aprendendo coisas novas. Volto mais animado para exercer minhas atividades profissionais. E mais criativo também.
O que não se deve fazer é fingir que está presente em uma atividade familiar. Sempre acompanhei os treinos de futebol do meu filho, aos sábados. Mas costumava levava o smartphone comigo e ficava revendo e-mail s e anotando ideias para meu trabalho. Em um desses treinos, no meio do jogo, ele olhou para mim e gritou: “Para, pai. Você só fica no celular e não vê minhas jogadas”. Enquanto me dava a bronca, ele imitava meu gesto de digitação no telefone. Fiquei muito desconfortável com isso. Era melhor nem estar presente .
Hoje, quando o jogo começa, eu me transformo naquele pai da antiga e famosa propaganda de Gelol — o cara que fica na torcida gritando e orientando o filho jogador. Agora, ele reclama que eu grito demais e o deixo confuso. Mas a sensação de conexão e fantástica!
(*) Sergio Chaia foi presidente da Nextel , Sodexho Pass e vice- presidente para a América Latina da Symantec. Participa de diversos conselhos e atualmente é chairman da Óticas Carol. Também é palestrante e autor do livro Será que é possível?
Fonte: Época Negócios, por Sérgio Chaia (*), 13.11.2015
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