domingo, 9 de agosto de 2015

No primeiro ano do bebê, licença de pais é ilimitada.

A mensagem do Netflix para novos pais é algo raramente ouvido nos Estados Unidos: tire o tempo de licença que achar necessário.
Em meio a um debate sobre se o setor de tecnologia é um ambiente amigável às famílias, a empresa de aluguel e “streaming” de vídeos, com sede em Los Gatos, na Califórnia, revelou uma das políticas de licença-maternidade e paternidade mais generosas entre os grandes empregadores dos EUA. Com entrada em vigor imediata, pela regra, novos pais e mães poderão tirar um período de tempo ilimitado de licença, com pagamento integral de salário, no primeiro ano depois do nascimento ou adoção de um filho.
“Nós queremos que os empregados tenham flexibilidade e confiança para balancear suas necessidades de criar famílias sem se preocupar com o trabalho ou as finanças”, escreveu a diretora de talentos da empresa, Tawni Cranz, no blog da empresa na terça-feira.
A política do Netflix é especialmente notável pela sua fluidez, dizem especialistas em ambiente de trabalho. Os funcionários podem tirar até um ano de licença recebendo seu salário regularmente ou optar por ficar em casa por alguns meses, voltar a trabalhar meio período por um certo tempo e depois deixar o escritório de novo por mais alguns meses.
“Nós vamos continuar pagando esses funcionários normalmente, eliminando a dor de cabeça de terem que depender de benefícios do governo”, escreveu Cranz. A empresa não quis comentar ontem.
O benefício da licença tem muito em comum com aqueles da Europa, onde políticas generosas de licenças pagas financiadas pelo governo para novos pais são a norma. No Brasil, as mães têm direito a uma licença-maternidade de seis meses, amparadas pelo governo. A licença para os pais é de cinco dias.
Em uma pesquisa de dezembro de 2013 sobre políticas de licença-maternidade em todo o mundo, o Pew Research Center verificou que os EUA são o único entre 38 países que não tem leis garantindo licença remunerada para as novas mães. Entre os países pesquisados, os governos exigem uma mediana de cinco a seis meses de licença remunerada integralmente para mulheres depois do nascimento de um filho.
Cerca de 20% das organizações americanas oferecem licença-maternidade paga maior que a cobertura oferecida pelos benefícios do governo, segundo uma pesquisa de 2015 feita pela Sociedade para a Gestão de Recursos Humanos com 463 profissionais do setor. O total é superior aos 12% registrados em 2014.
A separação da licença maternidade da licença por incapacidade oferece uma vantagem adicional – para as mulheres -, ao permitir que as mães permaneçam ligadas ao trabalho mesmo quando elas precisam atender às necessidades familiares, diz Ken Matos, diretor sênior de pesquisa do Instituto de Famílias e Trabalho.
A licença-maternidade geralmente é coberta por políticas de incapacidade temporária, que exigem que elas não trabalhem de forma alguma enquanto estiverem afastadas, ou podem tentar obter recursos com o seguro, diz ele. Como resultado, muitas mulheres são demitidas durante a licença, o que pode prejudicar suas carreiras, diz.
As empresas de tecnologia são conhecidas por oferecer aos funcionários regalias generosas e ricos pacotes de benefícios, mesmo exigindo longas jornadas de trabalho. O Google, por exemplo, oferece 18 semanas de licença-maternidade remunerada.
A Microsoft anunciou ontem que ela também irá ampliar os benefícios aos pais. A partir de novembro, mães recentes poderão ficar até 20 semanas em licença remunerada, podendo tirar mais duas semanas livres nas duas semanas que antecedem o parto, escreveu Kathleen Hogan, diretora de recursos humanos da Microsoft, no blog da empresa.
Esse período inclui 12 semanas de licença para novas mães e novos pais e também a licença de incapacidade temporária para as mães. Atualmente, as mães têm oito semanas remuneradas de licença de incapacidade temporária e pais e mães com filhos recém-nascidos têm direito a 12 semanas de licença, das quais quatro são remuneradas.
Alguns empregadores de outros setores também começaram a mudar sua política em uma tentativa de reter talentos – a firma de private equity Blackstone Group anunciou, em abril, que estava ampliando os benefícios da licença-maternidade de 12 para 16 semanas com pagamento integral.
Políticas ilimitadas como as da Netflix soam generosas, mas elas podem ser complicadas tanto para os gestores como para os funcionários. Pesquisas mostram, por exemplo, que políticas de férias ilimitadas resultam em menos tempo fora da empresa pelos funcionários porque eles se sentem inseguros sobre como suas solicitações serão vistas pelos chefes e colegas. Mas uma cultura forte ajuda: trabalhadores tendem mais a pedir licença se estiverem confiantes que não serão punidos por isso, diz Matos.
Embora a licença para os pais não seja férias, todos os programas de licença dependem da “capacidade dos empregados em declarar ‘Eu estou tirando licença para fazer o que eu preciso fazer para a minha família'”, diz ele.
O Netflix pode esperar alguns desafios logísticos mais adiante. Os administradores podem não saber quantos funcionários eles terão disponíveis em períodos de maior trabalho, diz Bruce Elliott, gerente de compensação e benefícios da Sociedade para a Gestão de Recursos Humanos, e podem precisar de recursos de outros setores da organização ou ter de treinar funcionários para realizar tarefas adicionais.
E a mudança pode ser complicada quando se trata da licença-paternidade, com os homens permanecendo relutantes em se afastar do trabalho depois da chegada de um bebê. A licença média de pais recentes é de duas semanas, calculando conjuntamente as políticas de licença-paternidade, férias e outras, segundo o Centro para Trabalho & Família da Universidade de Boston. Os homens dizem que a chance é muito maior de eles aceitarem sair de licença caso a remuneração seja de pelo menos 70% do salário regular.
Fonte: Valor Econômico / The Wall Street Journal, por Rachel Feintzeig e Lauren Weber, 06.08.2015

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