Sem conceder férias ou diminuir a jornada de trabalho, empresas podem ampliar o tempo livre de seus funcionários em 17 dias ao ano com uma mudança simples: deixá-los trabalhar de casa.
De acordo com levantamento feito pelo Ibope divulgado na terça (22), um morador de São Paulo perde em média uma hora e 44 minutos ao dia para ir e voltar do trabalho. Em um ano, são 416 horas perdidas no trânsito.
De olho no problema, empresas têm investido no trabalho a distância (ou “home office”) para melhorar a qualidade de vida e a produtividade dos empregados.
Entre 2012 e 2015, a modalidade aumentou 44% no Brasil, segundo a consultoria Robert Half, potencializado por tecnologias como o serviço de nuvem, que permite o acesso a arquivos de qualquer dispositivo com internet.
Assim, Bruno Roncolato, 31, não só trabalha de casa, em São Paulo, como passou dois anos gerenciando uma equipe localizada na Austrália. Atualmente, é gerente de produto na start-up Passei Direto, com sede no Rio, para onde vai a cada 15 dias.
Com a experiência, ele criou estratégias para manter a concentração. Pela manhã, faz exercícios, toma um banho gelado e se veste como se fosse para o escritório. Os horários de entrada, almoço e saída são sempre fixos.
A Passei Direto contribui com o laptop, a conta de telefone e as passagens para o Rio. Apesar de não ser exigência da lei, outros negócios ainda pagam parte das contas da casa (como energia).
Na empresa de software Totvs, os funcionários recebem R$ 100 por mês como ajuda de custo. Há um ano e meio, cem empregados trabalham de casa durante duas semanas por mês, selecionados com base na autonomia e na disciplina profissional.
“Quem é movido a chefe vai ter dificuldade”, avalia André Brik, co-autor do livro “Trabalho Portátil”, estudo da prática no Brasil, em parceria com a mulher, Marina.
Para ele, quem quer trabalhar em casa precisa ser proativo e estar preparado para enfrentar as distrações, que vão do familiar que acha que a pessoa está de folga ao animal de estimação.
Na Totvs, o ambiente da casa é avaliado para autorizar o “home office”. “Se a pessoa mora numa quitinete com o filho, o companheiro, já sabemos que não vai funcionar”, diz Daniela Cabral, executiva de RH da empresa.
Mas há casos em que a família é uma das motivações para o benefício -caso da analista de marketing da Novelis Dayane Bragatto, 31, que tem uma filha de 9 meses.
Toda semana, ela se organiza para ter um dia sem reuniões, quando pode ficar em casa. Além da filha, outra vantagem do “home office” é não ser interrompida com telefonemas ou por colegas. “Como trabalho com números, preciso de concentração.”
Além do setor privado, empresas públicas e mistas também têm testado a modalidade. Em abril, o Banco do Brasil iniciou um projeto piloto com 50 funcionários da área de TI, que podem ficar em casa até quatro dias por semana.
Segundo Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas, a produtividade do grupo cresceu 38%. Mas o controle da rotina é rígido: o acesso ao sistema só é liberado nos horários fixados e a meta é 15% maior do que aquela para quem trabalha no escritório.
Apesar das regras, a analista de TI Maria Aparecida de Souza, 52, há 27 anos na empresa, ficou tão à vontade na nova rotina que, quando não tem que levar os filhos à escola, trabalha de pijama.
“O ‘home office’ virou algo tão básico na minha vida quanto o celular. Eu chego a me perguntar por que não foi sempre assim.”
Ansiedade
Segundo Rodrigo Maranini, da consultoria de recrutamento Talenses, deixar o funcionário trabalhar em casa é uma ideia que assusta executivos. “Eles temem que acabe virando um dia de folga.”
Por isso, a prática depende de uma relação de confiança entre negócio e profissional.
Daniel Picolo, sócio da produtora Dreambox, perdeu um cliente por culpa de um colaborador que não entregou um trabalho no prazo. Acostumado a dar liberdade para cada funcionário fazer seu horário, ele achou natural estender o mesmo ao freelancer.
O “home office” também tem reveses para o profissional. André Brik conta que uma das maiores dificuldades que teve quando começou a trabalhar em casa foi a solidão e o isolamento.
Uma pesquisa feita pela empresa de TI Resource mostrou que o nível de ansiedade entre funcionários que trabalhavam em casa aumentou de 5,44 para 6,39 pontos.
A hipótese de Olivar Rodrigues, diretor de RH, é que esses profissionais se cobram mais para provar que estão de fato trabalhando. “Eles acham que os outros pensam que eles não estão fazendo nada”, afirma.
Fonte: Folha de São Paulo, por Fernanda Perrin, 27.09.2015
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