Para atravessar o período de crise, as empresas eleitas “As Melhores na Gestão de Pessoas” pela revista “Valor Carreira” em 2015 pretendem manter os investimentos em treinamento e capacitar seus gestores para tornar a comunicação com os funcionários mais eficiente. Segundo os representantes das áreas de recursos humanos ouvidos pelo Valor na cerimônia de entrega dos prêmios ontem, em São Paulo, a prioridade será garantir um clima organizacional positivo durante o período de aperto esperado para o ano que vem.
No grupo A. Yoshii, de construção civil, o momento econômico exigiu um corte de cerca de 10% dos funcionários neste ano. Para 2016, a empresa espera a definição de algumas obras, o que evitaria outra dispensa. Embora as mudanças tenham gerado uma diminuição de 10% no orçamento do departamento de RH, a área de treinamento vai receber um incremento no mesmo montante. “Isso vai nos manter competitivos, reduzir o retrabalho e melhorar a comunicação”, diz o diretor de recursos humanos, Aparecido Siqueira.
Apesar de ter promovido ‘lay-off’ (suspensão do contrato de trabalho) e férias coletivas neste ano, a Electrolux não mexeu em práticas de RH como o aumento por mérito acima da inflação, treinamento e outros benefícios. Para manter o engajamento dos profissionais, o vice-presidente de RH, Valmir Buscarioli, destaca a importância de mostrar aos profissionais que eles têm futuro na companhia, mesmo que isso signifique a saída da operação brasileira. “Mais pessoas têm demonstrado interesse em programas de expatriação ou para atuar em vagas no exterior.” Há atualmente, cerca de cem brasileiros trabalhando dessa forma.
Para o CEO e presidente da Aon Brasil, Marcelo Munerato de Almeida, a crise exige agilidade dos departamentos de RH na adaptação ao novo momento da empresa e do mercado. “Essa área tem a obrigação de estar totalmente conectada às necessidades do negócio”, afirma. Melhorar a produtividade, em sua opinião, é um dos grandes desafios das organizações e isso exige do RH a otimização no recrutamento, no treinamento e na gestão de desempenho.
Na empresa de mármores e granito Decolores, 75% da produção é destinada a exportação, o que permitiu certa tranquilidade neste ano. Entretanto, a companhia já registra menos produção, o que deixou parte do quadro com tempo ocioso. A solução está sendo aproveitar esse período para treinar os funcionários operacionais. “Queremos que as pessoas usem essa sobra de tempo para aprimorar os processos de trabalho”, diz a gerente de RH, Ana Cláudia Mamede. “Assim, quando a produção voltar a todo vapor vamos estar mais bem preparados.”
Na empresa de benefícios Ticket, a prioridade será o treinamento em todos os níveis e a adoção de mais indicadores de desempenho. A empresa desenvolveu um sistema para evidenciar essas métricas e facilitar o controle dos orçamentos por parte dos gestores. A avaliação dos funcionários foi simplificada e a área de vendas teve o modelo de remuneração variável modificado para se tornar mais atrativo. “Foi um ano difícil, mas não vamos desacelerar ou tirar o foco da gestão de pessoas”, diz José Ricardo Amaro, diretor de RH da Edenred Brasil, dona da Ticket.
Na opinião de presidente da Aon, Marcelo Munerato de Almeida, o que garantiu o engajamento nas empresas vencedoras foi a adoção dessa agenda por todas as lideranças, e não só pela área de gestão de pessoas. “O que afeta o engajamento dos funcionários não é o cenário econômico em si, mas como a empresa reage a ele.”
A diretora de RH da Novartis, Valéria Barbosa, concorda que, nesse contexto, é fundamental ter um processo de comunicação uniforme e bem estruturado. Na farmacêutica, essa estratégia é discutida em reuniões mensais com todos os diretores. A empresa diminuiu o quadro em 2015 após a venda de duas unidades de negócios e vai manter o orçamento do RH de maneira proporcional ao número de funcionários. “Há um risco nessas horas de enxugar a área de desenvolvimento, mas vamos continuar capacitando os profissionais para o futuro”, diz.
Em companhias que registraram crescimento em 2015, o foco também será preparar as equipes para enfrentar turbulências. Com a missão de treinar todos os funcionários em um novo sistema de trabalho, a gerente de RH do consórcio Embracon, Brenda Donato, diz que o ano que vem vai exigir mais inteligência emocional dos líderes. “Será preciso atuar de forma mais próxima das equipes.”
Na Lojas Renner, a prioridade será garantir a formação de sucessores. “Para que o crescimento aconteça de forma saudável, a gestão de talentos busca identificar, desenvolver e reter as pessoas certas nas posições certas”, diz a gerente sênior de desenvolvimento de RH, Maria Lúcia Salaverry Félix.
Fonte: Valor Econômico, por Letícia Arcoverde, 27.10.2015
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