Por Patrícia Bispo para o RH.com.br
"Viver e não ter a vergonha de ser feliz... Cantar, e cantar, e cantar... A beleza de ser um eterno aprendiz". Esse pequeno trecho da música "O que é, o Que é", que ganhou vida graças à criação e à interpretação do inesquecível Gonzaguinha pode muito bem nos fazer parar para refletir o que significa "Ser Feliz" e mais, ainda, se a felicidade pode estar presente em todos os eixos que envolvem a nossa vida, seja no campo pessoal ou profissional. O fator "Felicidade" tem sido foco da atenção de muitos estudiosos do comportamento humano que, em muitos casos, levam essa questão para dentro das esferas corporativas. E é nesse momento que surge a indagação: "Como alguém pode ser um profissional feliz, em um mundo tão competitivo?". Essa, sem dúvida alguma não é uma pergunta que receberá uma única resposta, afinal existem várias linhas de pensamentos que têm sido defendidas diariamente.
Segundo Carla Furtado, palestrante sobre Comportamento e Humanização em Saúde, sob a perspectiva da Psicologia Positiva, que é a área da Psicologia que estuda o êxito humano, a felicidade é compreendida como um bem-estar que engloba cinco aspectos: a vivência cotidiana de emoções positivas; o elevado engajamento naquilo que se faz; a prevalência de relações positivas; a percepção de um significado maior e que vai além da satisfação de seus próprios desejos e a autorealização. "Sabemos hoje que a felicidade possui 50% de componentes genéticos, 40% de aspectos relacionados ao estilo de vida e 10% relativos ao ambiente. Na prática, o que a ciência nos diz é que temos boas chances de ser mais felizes a partir das escolhas que fazemos - que são os 40%", avalia a especialista. Em entrevista concedida ao RH.com.br, Furtado menciona, ainda, as pessoas felizes possuem algumas similaridades. No trabalho, por exemplo, elas alcançam elevado nível de engajamento nas atividades que desempenham e costumam exercer importante influência em seus núcleos. Confira a entrevista na íntegra e tenha uma agradável leitura!
RH.com.br - Hoje, qual a compreensão que se tem sobre a felicidade humana?
Carla Furtado - Na perspectiva da Psicologia Positiva, que é a área da Psicologia que estuda o êxito humano, a felicidade é compreendida como uma espécie de bem-estar que engloba cinco aspectos essenciais: a vivência cotidiana de emoções positivas, o elevado engajamento naquilo que se faz, a prevalência de relações positivas nos mais diversos âmbitos, a percepção de um significado maior e que vai além da satisfação de seus próprios desejos e a autorealização. Esse conjunto de aspectos forma o chamado modelo PERMA, resultado do trabalho do pesquisador, professor e escritor americano Martin Seligman.
RH - Essa percepção sobre felicidade também é extensiva ao ambiente de trabalho?
Carla Furtado - Essa percepção é integral, única, indissociável. É absolutamente diferente dos modelos que veem a vida como um somatório de palcos existenciais isolados: vida profissional, vida pessoal, vida social. Trata-se de existir e transitar pela vida a partir de uma experiência positiva continuada. Possível? Totalmente. Costumo dizer que a felicidade é uma disciplina, exige reflexão e prática diárias. Consiste, entre outros aspectos, na inserção de pequenas satisfações cotidianas que podem ser, por exemplo, o café degustado com calma e em boa companhia ou a conversa com as crianças no caminho para a escola.
RH - Quais os principais sinais que caracterizam um profissional feliz?
Carla Furtado - Pessoas felizes possuem algumas similaridades. No trabalho, elas alcançam elevado nível de engajamento nas atividades que desempenham e costumam exercer importante influência em seus núcleos. Outro traço relevante é a gratidão: tendem a reconhecer oportunidades e o apoio que recebem.
RH - Essa felicidade conquistada pelo profissional, normalmente deve-se apenas a fatores interiores ou o meio em que ele vive também exerce influência?
Carla Furtado - Sabemos hoje que a felicidade possui 50% de componentes genéticos, 40% de aspectos relacionados ao estilo de vida e 10% relativos ao ambiente. Na prática, o que a ciência nos diz é que temos boas chances de ser mais felizes a partir das escolhas que fazemos - que são os 40%. Essas escolhas envolvem, por exemplo, a prática de atividade física regular e organização da agenda de tal forma que haja tempo para a família, os amigos e o ócio. Ambos fomentam a felicidade em nossas vidas.
RH - Atualmente, os especialistas em comportamento humanos quando se referem à felicidade profissional, projetam o indivíduo para o estado de Flow. O que isso significa?
Carla Furtado - Flow, do inglês "fluir", é um estado de integração total entre o indivíduo e aquilo que ele está fazendo. É um estado de absoluta presença no aqui-agora, no qual o engajamento na atividade é tamanho que não se percebe o passar do tempo. Certamente é experimentado por aqueles que têm no trabalho uma verdadeira expressão da própria identidade na vida.
RH - Então, o Flow é indispensável para que o profissional encontre a felicidade no ambiente de trabalho?
Carla Furtado - Não necessariamente. Flow seria a experiência de pico, o ápice da satisfação. É possível sentir-se feliz no trabalho sem necessariamente vivenciar estar em flow.
RH - Como a senhora percebe a preocupação das empresas, quando o assunto é felicidade no ambiente de trabalho?
Carla Furtado - No Brasil, percebo que a felicidade ainda seja tratada de forma incipiente. O próprio tema "Felicidade" é raramente abordado, como se fosse uma questão exclusivamente pessoal.
RH - Que ferramentas ou recursos podem, por exemplo, ser utilizados pela área de RH a fim de que o ambiente de trabalho se torne um local propício à felicidade?
Carla Furtado - Monitorar o clima organizacional, destinando especial atenção às emoções negativas experimentadas no trabalho para, com isso, agir corretivamente. Conhecer os fatores que podem atrapalhar o engajamento dos profissionais em suas atividades, também com o objetivo de corrigir eventuais problemas. Promover trabalhos no que tange ao exercício do poder na organização. Desenvolver ações de responsabilidade social efetiva, que permitam aos colaboradores exercitar o altruísmo. Reconhecer, celebrar e premiar a performance superior. Esses são alguns recursos que podem levar a resultados que podem surpreender as organizações.
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