Por todo o mundo, os mercados de trabalho estão uma bagunça. Em muitos países o desemprego está elevado, em especial entre os mais jovens. Ao mesmo tempo, muitas empresas encontram problemas para conseguir funcionários qualificados. As pessoas vêm se aposentando em números recordes, mas muitas prefeririam continuar trabalhando, pelo menos em tempo parcial. A tecnologia da informação provocou demissões, mesmo tendo criado novos empregos.
Esses sinais e tendências conflitantes são sintomas de uma série de descasamentos de fundamentos entre o que os empregadores precisam e os talentos daqueles que eles gostariam de contratar. Nunca houve tantas pessoas tão bem formadas no mundo; ainda assim, a crise na Europa, a lenta recuperação nos Estados Unidos e a ascensão das economias emergentes vêm revelando falhas nos mercados de trabalho até então ocultas.
O problema começa com o sistema educacional, que costumava ser mais eficiente não apenas em educar e treinar novas gerações, mas também em direcioná-los a carreiras promissoras. Infelizmente, escolas e universidades não mudaram muito nos últimos 30 anos, mesmo com o mundo do trabalho tendo passado por uma reviravolta épica. O ensino e treinamento on-line decolaram no mundo empresarial, mas as universidades continuam recusando-se a aceitar isso. A inflação de custos também afeta profundamente a acessibilidade ao ensino de alta qualidade para a maioria da população.
Os jovens representam dois tipos diferentes de desafios. Na maioria dos países, a população com idades dentre 16 e 30 anos está dividida em dois grupos bem diferentes. Alguns jovens têm ótimo ensino, mas encontram problemas em conseguir empregos à altura de sua capacidade e juntam-se às fileiras dos desempregados. Outros carecem de oportunidades educacionais ou abandonam os estudos. Em alguns países, uma geração inteira de jovens poderia perder-se porque autoridades e empresas mostram-se tímidas demais para experimentar novas ideias, conceitos e estruturas.
Enquanto isso, as rápidas mudanças tecnológicas, incluindo os negócios digitais e a produção industrial distribuída, colocaram muitas pessoas na faixa dos 50 aos 65 no desemprego. As empresas estão às voltas para se adaptar à mudança das circunstâncias do mercado e tentam se reinventar, o que muitas vezes significa contratar novos funcionários com conhecimentos diferentes. Depois de perder empregos relativamente bem pagos, muitos trabalhadores mais velhos se aposentam prematuramente ou assumem ocupações bem menos atraentes.
Isso representa um enorme desafio, porque não é fácil voltar a treinar grandes números de pessoas que perderam os empregos por causa das novas tecnologias. Tanto governos quanto empresas têm a responsabilidade de produzir soluções, o que vai envolver gastos em educação e treinamento, assim como redesenhar cargos de forma a que se encaixem na capacidade profissional existente.
Por fim, um dos desafios mais graves para as sociedades contemporâneas é descobrir o que fazer com as dezenas de milhões de aposentados decorrentes da expectativa de vida cada vez maior. Pessoas com mais de 65 anos algumas vezes podem ter problemas de declínio cognitivo, mas frequentemente têm habilidades úteis e riqueza de experiências. Não faz sentido econômico, social e financeiro excluí-las da força de trabalho – especialmente quando muitos deles gostariam de trabalhar em tempo parcial.
Os governos precisam adaptar as leis e a regulamentação para aproveitar integralmente essa concentração de mão de obra experimentada, enquanto as empresas precisam pensar criativamente sobre como usar funcionários em horário parcial de forma mais eficiente. Não é necessário nem dizer que enfrentar esse problema ajudaria a aliviar parte da pressão sobre o sistema previdenciário.
A imigração é outro fenômeno que precisa ser administrado com atenção. É uma infelicidade que, justamente quando afrouxar as restrições sobre a imigração * ajudaria os mercados de trabalho, o mundo viva uma intensificação das atitudes e políticas xenófobas. Governos e organizações da sociedade civil precisam exercer sua liderança e ajudar o público a entender como a imigração tem potencial para impulsionar – e de fato impulsiona – o progresso econômico e social. Em uma economia global cada vez com menos fronteiras, o sistema de Estado-nação que herdamos impõe demasiadas restrições à livre movimentação das pessoas, sendo que muitas dessas limitações são contraproducentes.
Um desenvolvimento positivo é que a revolução feminista enfim começou a ter impacto no mercado de trabalho. A discriminação de gênero continua a ser um problema, mas é possível ver cada vez mais mulheres ocupando cargos importantes. As mulheres são a fonte principal ou a única fonte de renda em cerca de 40% das famílias nos Estados Unidos com dois pais e pelo menos um filho com menos de 18 anos. É imperativo continuar a capitalizar essa tendência. Uma mão de obra mais diversa e com mais talentos é fundamental para o crescimento econômico sustentável.
O caos nos mercados de trabalho não vai desaparecer até que os governos e empresas enfrentem a terrível série de problemas relacionados à educação, às oportunidades para jovens e idosos, às virtudes e desafios da imigração e às aspirações das mulheres. Infelizmente, esses tópicos muitas vezes são politicamente polêmicos. É por isso que ter mercados de trabalho sólidos cada vez mais exige tanto lideranças firmes quanto mentes abertas. (Tradução de Sabino Ahumada).
* www.bit.ly/1kIzbzc
(*) Mauro F. Guillén é diretor do Lauder Institute na Wharton School. Copyright: Project Syndicate, 2015. www.project-syndicate.org
Fonte: Valor Econômico, por Mauro Guillén (*), 27.10.2015
Muito boa a matéria. Fica a dica.
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