quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A crise do RH.

Profissionais de RH devem estar, pela própria natureza do ofício, entre os profissionais que mais se identificam com a filosofia da empresa. Por isso, identificar uma crise de confiança no RH – como fez uma pesquisa divulgada hoje pela consultoria de gestão Hay Group – é um sinal preocupante para o clima dos negócios no país.
A pesquisa, conduzida em 390 empresas, com respostas de 508 profissionais da área, detectou que só 60% dos profissionais de RH têm confiança na alta direção, e uma parcela parecida (58%) acredita nas metas e no direcionamento da empresa. No que toca mais diretamente sua área, menos da metade acredita que a empresa tem comunicação clara e transparente.
“A falta de clareza e direcionamento e a perda de confiança nos líderes impactam diretamente no comprometimento dos profissionais, que é ligeiramente menor que os índices observados no mercado em geral”, diz o consultor Elton Moraes, um dos responsáveis pela pesquisa.
Mas também faz sentido dizer que os profissionais de RH, na maioria das empresas, são considerados um apêndice da organização, longe das decisões estratégicas. Nesse caso, um nível de desconfiança maior que a média é simplesmente um sinal de boa capacidade de discernimento. O ideal de uma área de RH é influir nos rumos da empresa. Ao perceber que o discurso é distante da prática, a desilusão é maior.
Nem mesmo as limitadas práticas de orientação e treinamento são conduzidas com eficiência, na percepção dos profissionais. Segundo a pesquisa, 58% dos profissionais não estão satisfeitos com a orientação que recebem dos chefes para desenvolvimento de carreira e 59% dizem não receber feedback regular.
Como explicar, então, os 84% de profissionais que dizem entender como seu papel contribui para os objetivos da empresa, segundo a pesquisa? Por um lado, essa taxa pode significar orgulho de um trabalho bem feito. Mas pode denotar, também, o quão tímido é o papel atribuído ao RH nas empresas. A área tem uma altíssima taxa de profissionais que carecem de formação – e interesse – para compreender o núcleo dos negócios (ou core business, em bom português empresarial). Acaba condenada, em boa parte das vezes, a servir como adjacente à tomada de decisões. Isso numa economia do conhecimento, em que a gestão de pessoas deveria estar no centro da estratégia.
Essa falta de ambição ajuda a explicar outro dado curioso da pesquisa. Mais da metade dos profissionais considera que seu salário está adequado ao trabalho realizado, uma taxa 19 pontos percentuais acima da média do mercado. Parte da explicação, como diz o consultor Elton Moraes, vem do fato de que “esses profissionais têm mais conhecimento sobre as políticas de remuneração e benefícios”. Mas é da natureza humana um profissional achar que faz mais e merece mais. Há um nível de baixa autoestima, na categoria, que não faz bem aos profissionais da área – e nem às empresas.
Fonte: Época Negócios, por David Cohen, 07.09.2015

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