No mundo corporativo, boa comunicação significa produtividade e também tem relação direta com o nível de satisfação dos funcionários.
Levantamento do GPTW (Great Place to Work) com 1.095 empresas em 2012 mostra que entre profissionais que não tiveram nenhuma conversa cara a cara com o chefe nos 12 meses anteriores, o nível médio de satisfação foi de 61 (em uma escala de 0 a 100).
O índice sobe para 88 nos casos em que o líder teve ao menos três conversas presenciais com o seu colaborador.
Uma das ferramentas usadas por psicólogos e consultores de RH para melhorar a comunicação no ambiente empresarial se baseia no livro “Tipos Psicológicos” (1921), de Gustav Jung. Para o suíço, as pessoas têm funções dominantes na hora de captar informações e tomar decisões.
São quatro tipos: as racionais (ou pensadoras), as sentimentais (ou afetivas), as intuitivas (ou reflexivas) e as sensoriais (ou pragmáticas). Todas as pessoas possuem as quatro funções, mas uma delas costuma ser predominante e melhor desenvolvida.
Entender o perfil predominante do seu colega ou do seu chefe pode dar ferramentas para “adaptar” a maneira de se comunicar e garantir maior eficácia em reuniões, telefonemas, apresentações e e-mails.
Reuniões e apresentações entre pessoas de personalidades distintas são desafiadoras para todos os envolvidos, mas, segundo especialistas, é importante ter consciência de que a eficácia da comunicação é responsabilidade do emissor.
“As pessoas são diferentes e cada uma delas precisa de abordagens de comunicação também distintas”, afirma Adriana Fellipelli, presidente da consultoria de RH Fellipelli.
Pessoa pragmáticas, por exemplo, normalmente são focadas nos resultados e gostam de informações práticas e de exemplos concretos.
Quando se comunicam com os intuitivos, mais focados em conceitos abstratos, os ruídos podem ser intensos a ponto de comprometer a recepção correta do conteúdo.
A portuguesa Joana Alves, 28, analista de branding do Zoom, site comparador de preços e produtos, participou, há dois meses, de um treinamento interno que ajudou na identificação do seu perfil, de acordo com as características definidas pelo suíço Carl Jung (veja quadro ao lado).
A função predominante de Alves é a afetiva/sentimental, e, em segundo lugar, a reflexiva/intuitiva. Para ela, ter participado do treinamento foi um processo de autoconhecimento.
“Sempre me achei muito sensível e emocional e pensava que isso não se refletia tanto no meu trabalho, mas se reflete sim”, afirma.
Formada em comunicação e com mestrado em marketing, ela afirma que tem facilidade para se comunicar, por ser empática e se envolver com os demais.
Alves também confirmou, após o treinamento, que às vezes tem dificuldade de se comunicar com pessoas muito racionais ou analíticas.
Desde então, ela vem tentando construir um discurso mais sintonizado com esses perfis conflitantes.
“Tento ir com outra abordagem, destacando resultados e tentando fazer uma apresentação com início, meio e fim, algo que não é muito natural para mim”.
O gerente de marketing técnico da Nvidia, Alexandre Ziebert, 31, é do perfil pragmático, que gosta de conversas e reuniões que sejam produtivas e objetivas.
“Eu me incomodo com as quem faz rodeios e não vai direto ao ponto. Se a pessoa enrola demais, educadamente solicito que diga logo o que quer”, diz.
Mais perfis
A teoria de Jung é, na verdade, mais complexa do que a definição das quatro funções. Segundo ele, há também dois tipos de consciência -o introvertido, que está voltado para si, e o extrovertido, que está voltado para fora, para o mundo.
As quatro funções conjugadas a esses dois novos tipos geram então oito perfis psicológicos (o racional introvertido e extrovertido, o sensorial extrovertido e introvertido etc.).
Posteriormente, a teoria foi complementada pela psicóloga americana Isabel Myers e sua mãe, Katharine Briggs, que desenvolveram o teste de personalidades MBTI (Myers-Briggs Type Indicator), muito usado até hoje por “coaches”, orientadores vocacionais e departamentos de RH.
Nesse caso, além dos oito perfis, leva-se em conta outros fatores e o resultado são 16 tipos de personalidade.
Entretanto, uma noção das quatro funções básicas já pode garantir avanços nos diálogos e reuniões.
A fundadora da Associação Junguiana do Brasil, Priscila Caviglia, ressalta que todas as pessoas têm as quatro funções, algumas atuando como dominantes e outras como auxiliares.
“Se eu exercitei muito o pensamento, o meu sentimento é mais desastroso e primitivo. O ideal, ao longo da vida, é trabalhar todas essas funções”.
Conversa
Além da análise de perfil, empresários e recrutadores afirmam, de maneira unânime, que simplesmente saber escutar e dar “feedback” pode contribuir muito para o processo de comunicação.
“As empresas contratam treinamentos e ferramentas sofisticados para melhorar a comunicação interna, mas a comunicação direta e a proximidade com os colegas e o chefe são poderosas”, afirma Ruy Shiozawa, CEO do GPTW (Great Place to Work) no Brasil.
Na avaliação de Reinaldo Passadori, presidente do Instituto Passadori e autor do livro “Quem Não Comunica Não Lidera” (Ed. Atlas, R$ 47), o autoconhecimento é o primeiro passo para que um funcionário melhore a sua maneira de se comunicar.
Nos treinamentos que faz, Passadori costuma filmar o profissional se apresentando e, depois, confronta-o com o vídeo.
“Incentivamos que ele perceba quais são suas características positivas”, afirma. Depois, também é feito um treinamento para melhorar as possíveis falhas, como entonação de voz, ritmo da fala ou dicção.
Na avaliação da administradora Eline Kullock, do Grupo Foco, o desafio de se comunicar bem será cada vez maior para as empresas, que caminham para o trabalho a distância.
“O mundo moderno nos leva a ser cada vez mais autocentrados. E isso afeta a capacidade de enxergar e de escutar o outro”
Saiba como melhorar a comunicação com colegas:
REFLEXIVOS (ou intuitivos):
Como são:
– Priorizam as ideias, a criatividade, a originalidade e os conceitos
– Têm uma mente questionadora e imaginativa para solucionar desafios.
– Captam facilmente teorias e apreciam a pesquisa intelectual
– São comprometidos com projetos de longo prazo
– Quando líderes, assumem responsabilidades e riscos pessoais
Como se comunicar com este perfil?
– Enfatize pontos inovadores e procure falar sobre implicações de longo prazo dos projetos
– Evite entrar em detalhes, não seja pessoal e não deprecie as ideias dele
RACIONAIS (ou pensadores):
Como são:
– Valorizam fatos, lógica prudência. Tendem a ser analíticos e planejadores
– Normalmente são mais formais ao se comunicar
– São bons estudando dados e calculando riscos. Em reuniões, são sistemáticos
– Não são influenciáveis por emoções e podem ser perfeccionistas
– Em excesso, podem ser frios nos relacionamentos, controladores e rígidos
Como se comunicar com este perfil?
– Tente ser formal, detalhista e siga uma sequência lógica
– Evite afirmações generalistas, argumentos emocionais e associações vagas. Não mude de assunto
AFETIVOS (ou sentimentais)
Como são:
– Valorizam a interação humana, os sentimentos e os relacionamentos
– São persuasivos, pacientes e bons comunicadores
– Costumam compartilhar experiências pessoais e sentimentais
– Estimulam o trabalho em equipe e tender a ser colaboradores comprometidos
– Em excesso, são impulsivos e têm dificuldade para tomar decisões duras
Como se comunicar com este perfil?
– Tente estar fisicamente próximo quando falar e use o aspecto humano em seus argumentos
– Evite ser frio e impessoal
PRAGMÁTICOS (ou sensoriais):
Como são:
– Prioriza os resultados e se comunica de maneira direta
– São talentosos para monitorar o trabalho dos demais, controlando custos e delegando tarefas
– Lidam bem com projetos de curto-prazo
– Assumem riscos e decidem rápido, mas, sob pressão, podem atropelar os outros
– Têm tendência a ser workaholic
Como se comunicar com este perfil?
– Indique resultados, enfatize questões práticas e seja breve e conciso em suas interações
– Evite falar de conceitos e ideias abstratas. Não entre em detalhes nem faça rodeios
Fontes: Livro “Tipos psicológicos”, de Carl Jung; Priscila Castrucci Caviglia, fundadora da Associação Junguiana do Brasil; Denise Maia, diretora do Instituto Junguiano de São Paulo; Adriana Fellipelli, presidente da consultoria Fellipelli.
Fonte: Folha de São Paulo, por Ana Magalhães, 21.06.2015
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