domingo, 21 de junho de 2015

A liderança tática exige pessoas flexíveis e inspiradoras

Por Patrícia Bispo para o RH.com.br

Liderança - certamente este é um dos personagens mais polêmicos e imprescindíveis ao dia a dia das empresas. Afinal, o líder serve como ponte de ligação entre a alta direção e os demais colaboradores, é um porta-voz que faz chegar aos ouvidos dos profissionais o que precisa ser transmitido, reforçado e, por vezes, desmistificado. Se esse é um dos papeis mais relevantes numa organização, o que diremos quando o líder torna-se tático, ou seja, consegue colocar em prática o planejamento corporativo ou age "cirurgicamente" nos períodos de crise da companhia? Sem dúvida alguma, a liderança tática ganha força e, em muito momento, torna-se responsável pela solução de problemas que passam despercebidos das gerências e também assume o papel de agente motivacional frente aos times. 
Para falar sobre o assunto, o RH.com.br entrevistou Wellington Moreira, consultor empresarial e autor do livro Líder Tático, Editora Qualitymark, lançado recentemente. De acordo com Moreira, a atuação tática exige pessoas flexíveis, inspiradoras, com grande capacidade de comunicação, habilidosas no trato com gente dos diferentes níveis organizacionais, capazes de criar um plano de contingência no curto prazo e atentas a todos os detalhes que cercam o negócio no qual a empresa atua. "O líder tático é aquele que faz acontecer, que coloca em prática a estratégia corporativa, resolve os problemas que surgem quando a empresa ainda não decidiu para onde ir e também é capaz de mudar os rumos do seu trabalho se alguma mudança de alto impacto acabou de atingir a organização", detalha. Confira a entrevista com Wellington Moreira na íntegra e aproveite a oportunidade para refletir sobre o assunto. Boa leitura e até breve!

RH.com.br - O que é ser um líder tático?
Wellington Moreira - Líder tático é aquele que tem a capacidade de mobilizar a energia e a competência das pessoas - subordinados, pares, superiores, fornecedores e parceiros de negócio - para executar a estratégia planejada pela empresa ou atuar no curto prazo, visando tratar problemas que surgiram a partir de novos movimentos da concorrência ou quaisquer transformações que acabam de alterar a ordem das coisas em seu mercado de atuação. Portanto, líder tático é aquele que coloca em prática o planejamento corporativo ou age cirurgicamente nos períodos de crise.

RH - Ainda existe muita confusão sobre o real entendimento do que é ser um líder tático? 
Wellington Moreira - Sim, ainda existe, principalmente nas empresas tradicionais guiadas pela cultura de comando e controle. Nestas companhias, muita gente acredita que o papel tático de "fazer acontecer" é algo que cabe apenas à média gerência e, assim mesmo, se - e quando - esta recebe tal incumbência de forma clara e direta por parte da alta direção. Ou seja, compreendem a liderança tática apenas como a resposta de alguém que está no meio da pirâmide organizacional à solicitação que vem de cima. Só que liderar taticamente é muito mais do que isto.

RH - Qual a importância de um líder tático para as organizações contemporâneas? 
Wellington Moreira - Quando a empresa compete num mercado muito concorrido e marcado por mudanças constantes, é fundamental contar com pessoas que tenham noção do caminho a ser trilhado, consigam mobilizar a equipe com rapidez, não se deixem abater por fracassos temporários e sejam capazes de ignorar irrelevâncias que parecem relevantes. A boa notícia é que não é necessário um crachá de gestor para atuar taticamente, pois todo colaborador só precisa se sentir encorajado a fazer alguma coisa naquele tipo de situação que exige uma resposta rápida e eficaz, ainda que ninguém lhe tenha dito o que fazer.

RH - Em seu livro "Líder Tático", lançado recentemente pela Editora Qualitymark, o senhor afirma que apesar da importância da liderança tática ser irrefutável, esse tipo de líder ainda é subvalorizado nas organizações. Por que essa contradição ainda acontece com frequência?
Wellington Moreira - Quem realiza um papel estratégico com primor é facilmente identificado, pois está próximo dos holofotes e levanta a bandeira na hora de celebrar grandes vitórias. Por outro lado, quem se ocupa do papel tático muitas vezes faz seu trabalho nos bastidores, articula de forma sutil e ainda deixa o crédito para quem está à frente da companhia. Tanto é que muitas empresas só descobrem que alguém realiza um bom trabalho tático quando esta pessoa deixa a organização e os problemas, que não existiam até então - porque ele atuava proativamente -, começam a pipocar.

RH - Quais as principais competências que esse tipo de liderança apresenta?
Wellington Moreira - Líder tático, como citei, é aquele que faz acontecer, que coloca em prática a estratégia corporativa, resolve os problemas que surgem quando a empresa ainda não decidiu para onde ir e também é capaz de mudar os rumos do seu trabalho se alguma mudança de alto impacto acabou de atingir a organização. Consequentemente, a atuação tática exige pessoas flexíveis, inspiradoras, com grande capacidade de comunicação, habilidosas no trato com gente dos diferentes níveis organizacionais, capazes de criar um plano de contingência no curto prazo e atentas a todos os detalhes que cercam o negócio no qual a empresa atua.

RH - Geralmente, como é a gestão de um líder tático junto ao time?
Wellington Moreira - Os melhores líderes táticos que conheço são pessoas que equilibram a busca por bons resultados com iniciativas que procuram fazer com que os colaboradores estejam satisfeitos com o seu trabalho. Para isto, transmitem os objetivos da empresa com paixão, acompanham o trabalho rotineiro de perto, cuidam do clima organizacional, estão sempre dispostos a ajudar quem passa por dificuldades e, principalmente, tratam as pessoas de acordo com o nível de maturidade que apresentam.

RH - Como um líder "comum" pode transformar-se em uma liderança tática? 
Wellington Moreira - Indivíduos que se tornam excelentes líderes táticos geralmente são profissionais que têm por hábito buscar responsabilidades crescentes em seu trabalho e também se colocam em situações de incerteza a todo o momento. Ou seja, aceitam riscos que a maior parte das pessoas não quer para si e aprendem vivenciando atividades desafiadoras que fogem do escopo de suas atribuições corriqueiras. Este tipo de postura acelera o desenvolvimento da pessoa muito mais rapidamente e, é claro, potencializa os resultados dela no curto prazo.

RH - Quais são as barreiras mais comuns que os líderes encontram no dia a dia, para exercerem uma atuação tática?
Wellington Moreira - Primeiramente, a barreira que vem de si mesmos, quando não se esforçam por compreender o seu papel de forma clara. Além disso, não é incomum que o alto staff os perceba como enxeridos demais, quando líderes com uma atuação tática começam a resolver problemas que até então pareciam estar a cargo da diretoria. Contudo, a maior barreira que enfrentam é aquela que vem das demais pessoas que ocupam posições táticas. Quem começa a se destacar precisa ter o cuidado de mostrar aos pares que ele não está tentando ocupar espaço à custa dos outros, caso contrário certamente acabará isolado e vítima da inveja alheia.

RH - Aonde o líder tático torna-se mais necessário no ambiente corporativo?
Wellington Moreira - Nas áreas e nos departamentos que estão passando por profundas mudanças, unidades que precisam dar resultados de curto prazo e períodos de crise econômica, como a atual. Neste tipo de ambiente é importantíssimo termos líderes que saibam reorientar o foco da equipe, tranquilizar as pessoas que estão assombradas com a turbulência e manter a motivação do grupo enquanto os resultados mais expressivos não se concretizam.

RH - Quais são suas expectativas em relação à presença da liderança tática nas empresas, para os próximos anos?
Wellington Moreira - Com a flexibilização das estruturas organizacionais em decorrência de clientes cada vez mais exigentes, a atuação da liderança tática deixará de ser vista como uma atribuição exclusiva da média gerência e, especialmente, será entendida como a capacidade que alguém demonstra em fazer acontecer. Quero dizer: não discutiremos mais qual a posição dos líderes táticos no organograma da empresa - pois isso será irrelevante - e sim que tipo de ambiente precisamos criar, para que os colaboradores façam aquilo que precisa ser feito, ainda que ninguém tenha pedido nada a eles.

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