sábado, 30 de maio de 2015

Grandes mentiras sobre ambientes de trabalho felizes.

O que é um ambiente de trabalho feliz? Um escritório cheio de mimos, como mesas de pingue-pongue e comida à vontade? Ou um espaço totalmente livre de conflitos, capitaneado por um chefe “bonzinho”?
Para Alexandre Teixeira, autor do livro “Felicidade S/A” (Arquipélago Editorial), não há uma resposta definitiva para a pergunta. Até porque o próprio conceito de felicidade no trabalho é uma invenção moderna, ainda em construção.
A origem da ideia remonta ao início dos anos 1990, quando os Estados Unidos operaram uma grande “reengenharia” da gestão moderna para fazer frente a novos concorrentes comerciais, como o Japão.
Em busca de eficiência máxima, as empresas começaram a enxugar seus quadros e a rotatividade aumentou como nunca, explica Teixeira.
No momento em que os empregadores deixaram de oferecer estabilidade em troca de lealdade, a ideia de “fazer carreira” numa mesma empresa, por toda a vida, começou a perder terreno.
Foi aí que começou a ganhar corpo uma expectativa inédita até então: encontrar um trabalho que trouxesse uma recompensa emocional. “Já que ter um emprego estável deixou de ser uma alternativa para a maioria das pessoas, começou-se a buscar significado, prazer e diversão”, diz ele.
Mentiras
Recente e pouco explorado, o assunto ainda é permeado por muitos mitos. Um dos mais notáveis é o de que escritórios felizes são marcados pela ausência de conflitos, diz o psicólogo Roberto Santos, sócio da Ateliê RH.
“Atritos são e sempre serão inevitáveis”, diz ele. “O que traz felicidade não é a falta deles, mas sim o quanto você é capaz de expressá-los e resolvê-los com as outras pessoas”.
A seguir, EXAME.com lista outras características falsamente atribuídas a ambientes felizes, segundo os especialistas ouvidos:
O escritório é cheio de “mimos”
É comum pensar em pequenos agrados, como lanches à vontade ou mesas de sinuca, como símbolos de um escritório feliz. Para Roberto Santos, a realidade é bem mais complicada.
De que adianta uma mesa de pingue-pongue se o trabalho é massacrante e ninguém confia em ninguém? “Nada disso se traduz em satisfação real, principalmente se o mais importante não existe”, afirma o psicólogo.
A hierarquia é mais fraca
Para Alexandre Teixeira, a existência de cargos bem definidos, por si só, não é negativa. O único caso em que a hierarquia joga contra a felicidade é se ela é usada como instrumento de poder e imposição de vontades arbitrárias.
Se ela serve apenas como estrutura para facilitar a divisão de papéis e responsabilidades, não há nenhum impacto negativo sobre a qualidade do ambiente, explica o autor.
Há menos cobranças
Se não há agressividade ou desrespeito, a exigência por um bom desempenho está longe de provocar infelicidade. Pelo contrário. “Sentir que você é constantemente desafiado traz bem-estar e sensação de movimento”, diz Teixeira.
Basta pensar no exemplo do Google, lembra Santos. A empresa é conhecida por seu alto nível de cobrança, mas nem por isso deixa de figurar na maioria dos rankings de empregadoras mais desejadas pelos profissionais. “Felicidade tem menos a ver com volume de trabalho e mais com motivação”, afirma Santos.
Ninguém está ali por dinheiro
O trabalho pode ser divertido e prazeroso – mas a contrapartida material continua sendo imprescindível, segundo Teixeira. Por isso, ambientes de trabalho felizes podem, e devem, ter pessoas interessadas em aumentos e promoções.
“O que as pesquisas mostram é que você precisa ganhar o suficiente para atender às suas necessidades”, explica o autor. “Enquanto não se não chega nesse patamar, o dinheiro interfere sim na satisfação de todos”.
O chefe é “bonzinho”
Ao contrário do que se pode imaginar, líderes paternalistas causam tanta insatisfação quanto os autoritários. Para Santos, o problema é que lideranças condescendentes, que só fazem elogios à equipe, criam uma sensação artificial de sucesso e bem-estar.
“Quando os resultados ruins forem percebidos pela alta cúpula da empresa, esse líder bonzinho precisará tomar decisões dolorosas, como demissões”, explica. “O preço vai ser pago mais cedo ou mais tarde”.
Fonte: EXAME.com, por Claudia Gasparini, 29.05.2015

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