Cada ato de violência, desrespeito ou injustiça praticado contra uma mulher deve ser respondido de maneira proporcional e devastadora. Como trabalho com executivas, ouço histórias que normalmente deveriam ser mais propagadas como exemplos de como agir nessas situações. Para minha surpresa, ao conversar com elas sobre o machismo, as respostas foram mais exemplares do que eu supunha.
Um exemplo de ato violento é o assédio sexual. Se o ato de violência ocorre, você terá de reagir à altura para evitá-lo. É evidente que preparo e contexto desempenham papeis decisivos – em alguns casos, fugir é a melhor saída. Após isso, recomendo que denuncie quem o fez para a empresa, e também às autoridades policiais. Assédio sexual é crime. Um dos piores exemplos de machismo a que as mulheres estão sujeitas.
Entretanto, nem todo assédio é físico. A intenção de um comentário sobre sua beleza no trabalho, com o sentido de desviar a atenção de sua seriedade e competência, também é uma modalidade de assédio sexual e machismo. Nesse caso, a firmeza de sua resposta é fundamental. Por vezes, apenas um olhar de reprovação pode funcionar. Mas sugiro que você chame o indivíduo para um feedback claro a respeito de que não deseja ouvir esses comentários.
Se ele repetir a conduta, você deve insistir para que ele a interrompa. E, por último, você terá de decidir se se afasta desse indivíduo, que, se for seu chefe significará um pedido de demissão ou de troca de departamento. Ou ainda, se o denuncia para a ouvidoria ou a seu superior. Aqui, existe um problema, que é provar a intenção do ato. Idealmente, você precisaria gravá-lo ou ter testemunhas dispostas a confirmar sua história.
Entretanto, além desses exemplos, existe um tipo de machismo que é o mais comum e, simultaneamente, o mais invisível e difícil de provar. É quando a mulher é preterida para uma promoção. Em geral, motivos subjetivos são transfigurados em explicações objetivas, mas falsas.
Nada é mais injusto que não utilizar a combinação da competência técnica com a comportamental para promover alguém. Isso é injusto, porque a carreira da mulher acaba por evoluir mais lentamente e com menor perspectiva que a dos homens. Aqui, a única maneira de responder a isso é ter uma referência interna a respeito de sua competência e correção de comportamento para os cargos que pretende assumir.
Também é indicado pressionar a empresa e procurar criar o máximo de alternativas possíveis, ao longo da carreira, para ter possibilidades de mudança de emprego, quando essas injustiças acontecerem. Portanto, networking é fundamental e deve estar sempre em sua agenda.
Uma sociedade na qual haja avaliações justas e melhores oportunidades para pessoas competentes somente surge se tivermos histórias de sucesso para compartilhar, e que possam servir de modelo para o pensamento de muitos. Portanto, vale a pena refletir sobre como devem ser os critérios válidos para que as pessoas competentes sobressaiam.
Quem mais perde com a colocação de incompetentes em lugares relevantes são aqueles que mais se esforçaram para se desenvolver. Atualmente, é nítido o investimento maior das mulheres em seu autodesenvolvimento. Também perdem os acionistas e os clientes das empresas, pois não estão sendo atendidos pelos melhores. Portanto, há uma razão objetiva para que injustiças não sejam cometidas com aquelas que são competentes.
Por último, somos frutos de uma cultura, mas também agentes de sua transformação. Como agentes de mudanças, cabe a todos observar intenções depreciativas em atos e diálogos com as mulheres e agir para interrompê-los.
Exemplos, orientações e feedbacks são importantes. Mas de nada adiantarão, se não tiverem o propósito de tornar o país mais justo, especialmente com aquelas que demonstram competência para alcançar os cargos que, de fato, merecem.
(*) Sílvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching.
Fonte: Site Exame, por Mariana Desidério e Sílvio Celestino (*), 19.09.2016
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