Seja por meio de avaliações 360 graus, que levam em conta a opinião de chefes, subordinados e pares, ou por resultado dos novos modelos de feedback constante, onde o retorno pode ser dado a qualquer momento por qualquer um, é tendência dentro das empresas que a opinião de seus colegas influenciem na sua avaliação como profissional. Mas qual o impacto disso na sua relação com eles?
Segundo um novo estudo de professores da Harvard Business School e da Universidade da Carolina do Norte, o mais provável é que você queira se afastar dos colegas que deram feedbacks negativos. Além de não seguir seus conselhos, a tendência é que os funcionários parem de interagir com seus críticos e reforcem laços apenas com aqueles que veem suas qualidades positivas. O resultado pode ser mais confortável, mas tem um custo para a performance.
Os professores usaram dados de mais de 300 funcionários de uma empresa americana coletados ao longo de quatro anos. A companhia do setor de alimentos tem uma estrutura fluida que permite aos empregados definirem o próprio papel na organização. Nela, o feedback vem de colegas de trabalho e não dos superiores. Por meio de um questionário on-line, todos os funcionários fazem todos os anos uma auto avaliação e uma avaliação dos colegas com quem trabalharam ao longo do ano, podendo deixar comentários construtivos.
O estudo analisou a resposta dos funcionários ao feedback recebido e se ele impactou as decisões dos profissionais de participarem ou não de projetos ou iniciativas com determinados colegas de trabalho. No ano seguinte a um feedback, os funcionários tendem a eliminar de suas redes colegas que fizeram críticas mais pesadas do que a visão que os próprios funcionários têm deles mesmos. Quando não tinham a possibilidade de deixar de trabalhar com um colega que foi crítico durante a avaliação, a tendência era o criticado buscar novas conexões com profissionais de fora do círculo – e portanto ainda sem uma opinião formada.
Outros experimentos revelaram que esses comportamentos acontecem porque o feedback negativo ameaça a visão que os funcionários têm das próprias habilidades e realizações. Buscar esse conforto, no entanto, tem resultados problemáticos para o funcionário e para a empresa. Ao analisar dados dos bônus recebidos por performance na empresa do setor de alimentos, os professores descobriram que os funcionários que escolheram se afastar de seus críticos apresentaram desempenho mais fraco no ano seguinte.
Para Francesca Gino, professora da Harvard Business School e uma das autoras do estudo, os resultados reforçam pontos que ela já havia identificado em pesquisas anteriores: as pessoas tendem a prestar atenção apenas nos aspectos positivos do próprio comportamento, e não são capazes de fazer uma avaliação correta do próprio desempenho. “Isso tem um custo. Estar ciente das suas fraquezas e limitações, quer você goste disso ou não, é importante para seu desenvolvimento. Se você realmente quer melhorar no trabalho, é preciso conseguir desenvolver relações com pessoas que estão dispostas a lhe dar esse feedback difícil”.
Fonte: Valor Econômico, por Letícia Arcoverde, 20.09.2016
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