A economia do Brasil cresceu a uma taxa média de 3,2% durante a década passada e conseguiu reduzir a incidência da pobreza para níveis próximos a 13,3%. Esses avanços estão sendo ameaçados pela recessão econômica que o país enfrenta desde 2014 e que deteriorou as condições do mercado de trabalho devido ao aumento sustentado da taxa de desemprego, que cresceu em 2016 até 11,8% em agosto, e da informalidade, que afeta 23% dos trabalhadores no setor privado.
De acordo com o Relatório de Economia e Desenvolvimento (RED) de 2016, intitulado Mais habilidades para o trabalho e a vida: as contribuições da família, da escola, do ambiente e do mundo laboral, do CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina, o desemprego e a informalidade podem prejudicar o capital humano dos seus trabalhadores e deixar marcas além do ciclo econômico ao reduzir as possibilidades que dá ao mundo laboral para manter e adquirir habilidades.
Segundo Pablo Sanguinetti, economista-chefe e diretor corporativo de Análise Econômica e Conhecimento para o Desenvolvimento do CAF, o RED 2016 mostra que as habilidades das pessoas, tanto cognitivas como socioemocionais e físicas, são muito importantes para melhorar suas perspectivas no mercado laboral. “Pessoas com maiores habilidades têm mais probabilidades de conseguir um emprego que seja de boa qualidade (formal) e bem-remunerado”, explicou. “Como as habilidades que não são usadas se deterioram, a passagem pelo desemprego deixa suas ‘cicatrizes’ ao afetar as futuras perspectivas de trabalho do desempregado, o qual contará com um conjunto reduzido de habilidades”, explica.
Um dado importante, segundo ele, é que o segmento de pessoas que passa mais de um ano sem emprego aumentou durante a recessão: se em dezembro de 2013 era de 15,3% do total de desempregados, em fevereiro de 2016 passou a representar 20,9%.
Essa nova composição do desemprego reforça os perigos de longo prazo envolvidos nessa recessão prolongada para a aquisição de habilidades dos trabalhadores.
O RED 2016 destaca a existência de três canais básicos para o acúmulo de habilidades no trabalho. Através dos dados da Pesquisa CAF 2015 realizada na cidade de São Paulo, foi verificado que aqueles que contribuem relativamente mais são a aprendizagem na prática e a aprendizagem através da interação com os colegas de trabalho. Em terceiro lugar estão os cursos de formação. Sobre estes últimos, outro dado de 2015 mostrou que apenas 30% dos trabalhadores em São Paulo estão empregados em companhias que lhes ofereceram algum curso de formação.
“Estar exposto ao ambiente laboral não apenas permite que as habilidades não se deteriorem, mas que o trabalho seja em si mesmo um espaço de aprendizagem e de aquisição de habilidades tanto técnicas como socioemocionais”, explicou Sanguinetti. Ele garante ser o trabalho formal e em grandes empresas que torna mais provável ocorrer a aprendizagem através desses três canais.
Dessa forma, o relatório observa a necessidade de estimular políticas que reduzam a informalidade para preservar e fortalecer o capital humano do Brasil, já que, além da sua alta incidência, muitos dos trabalhadores informais atuam por conta própria (40% em 2014), ou seja, trabalhadores independentes sem empregados encarregados, onde as enquanto um de cada três empregos no setor formal exige habilidades cognitivas complexas, apenas um de cada seis exige o mesmo no setor informal.
Por último o relatório assinala que as pessoas com habilidades mais elevadas são as que têm maior probabilidade de tirar proveito do aprendizado ofertado pelo mundo laboral. Mas, as habilidades que uma pessoa oferece se formaram e se acumularam gradualmente ao longo de toda a vida em um processo no qual influem não apenas a escola, mas também a família e o ambiente. Portanto, de acordo com o RED 2016, para chegar a uma força laboral talentosa se exigem políticas públicas coordenadas que promovam a formação do capital humano nestas quatro áreas.
Confira o estudo completo aqui.
Fonte: ABRH, 17.11.2016
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