terça-feira, 23 de agosto de 2016

Metamorfose do trabalho.

Há uma nova revolução industrial em curso e, mais do que isso, mudam drasticamente as relações de trabalho. Não faria nenhum sentido se a reforma das leis trabalhistas, em discussão no Brasil, não levasse em conta tantas mudanças e mudanças tão rápidas.
A primeira revolução industrial foi a que aconteceu no século 17, marcada pela invenção da máquina a vapor e da grande transformação produzida pelos transportes. A segunda foi a que se seguiu à eletrificação e à produção em massa. A terceira, a proporcionada pela internet e pela tecnologia da informação. A quarta pode ser a que se caracteriza pela enorme conexão entre pessoas, pelo uso intensivo de aplicativos, pelas redes sociais e pela inteligência artificial.
O que já dá para dizer é que as tais revoluções industriais se sucedem em ritmo frenético, vão destruindo e abrindo negócios. Com eles, somem empregos e aparecem novos.
Grande número de profissões só é lembrado pelos escritos e, às vezes, por nomes de ruas: toneleiros, fiandeiras, ferreiros, carvoeiros, acendedores de lampiões, telefonistas… As que vêm surgindo hoje nem nome têm e provavelmente, dentro de alguns anos, não serão lembradas.
Mal adentramos à era dos big data e dos enormes bancos de dados digitais, do bitcoin, das energias verdes, dos telefones inteligentes. Os espaços abertos foram todos devassados pelos satélites do Google Earth. E, agora, os interiores e as intimidades começam a ser xeretados por artimanhas digitais, como o Pokémon Go. Todas essas tecnologias vão sepultando empregos e criando novos.
Em apenas sete anos de existência, o Uber se transformou na maior rede de transportes de pessoas do mundo. O que dói para os taxistas, todos já sabem. Mas pode começar a doer também para os motoristas do Uber, porque o objetivo agora é produzir carros que se locomovem sem condutores. O comércio digital está apenas no começo, mas já pulverizou grande número de empregos entre os comerciários. Os aplicativos Airbnb, que proporcionam hospedagens em ambientes domésticos, e os OTAs, pilotados por agências digitais, estão mudando o negócio da hotelaria e de quem vive dele. O telefone fixo perdeu importância. O celular mudou a vida dos autônomos.
Em algumas atividades, especialmente nas empresas de prestação de serviços, os departamentos de pessoal já entenderam que os profissionais mais talentosos, justamente os que mais interessam à empresa, já não querem emprego fixo, preferem ficar soltos para poderem atender mais clientes.
Em ambientes assim, já não fazem o sentido que faziam antes nem a jornada mínima de trabalho, nem cláusulas de férias, nem regimes de horas extras. A terceirização já não pode ser entendida como um instrumento destinado a precarizar relações de emprego e de direitos trabalhistas. É uma necessidade das relações modernas de produção. O financiamento dos sistemas de previdência social enfrenta riscos incomensuráveis.
Enfim, estamos diante de um mundo novo e em constante mutação. Pretender ignorá-lo quando se discute aqui – ou em qualquer lugar do mundo – ajuste das leis trabalhistas e reforma da previdência é, no mínimo, condenar o futuro das próximas gerações.

Fonte: O Estado de São Paulo, por Celso Ming, 19.08.2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário