quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Nova revolução industrial vai destruir 5 milhões de empregos até 2020.

A quarta revolução industrial, que reúne inteligência artificial, robótica, impressão 3D, nanotecnologia e outras tecnologias, deverá provocar perda líquida de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos. Tal perda ocorrerá em 15 grandes economias, incluindo o Brasil, avalia o Fórum Econômico Mundial, na véspera do encontro anual de Davos, nos Alpes suíços.
A atenção internacional está focada na deterioração dos mercados financeiros, no impacto da desaceleração na China, na queda do preço do petróleo ou no risco de uma nova recessão global. Mas o Fórum escolheu como tema central deste ano “Dominar a Quarta Revolução Industrial”. Seus organizadores estimam que, entre os inumeráveis desafios que o mundo enfrenta hoje, o mais inquietante é, talvez, a maneira de moldar a nova revolução Industrial.
Essa nova revolução, combinando mudanças socioeconômicas e demográficas, terá impacto generalizado nos modelos de negócios e no mercado do trabalho, afetando cada indústria e região geográfica.
Inteligência artificial, robótica, impressão 3D, drones, nanotecnologia, biotecnologia, ciência de materiais, estocagem de dados (Big Data) e de energia e outras tecnologias ainda nascentes vão unir os mundos físicos, digitais e biológicos e causar mudanças exponenciais nas economias, sociedades e na maneira de fazer negócios.
Assim, além dos debates sobre a conjuntura, a entidade diz ter projetado um programa para chamar atenção e preparar os decisores para um futuro que causará transformações em todas as indústrias, marcadas pela emergência de novos modelos de negócios e reformulação da produção, consumo, transporte e entregas (“delivery systems”).
“As mudanças são tão profundas que, da perspectiva da história humana, nunca houve um tempo de maior promessa ou potencial perigo”, escreve Klaus Schwab, presidente do Fórum e autor de um livro sobre o tema antecedendo o encontro de Davos. Isso pode trazer soluções para muitos problemas no mundo, como riscos para o emprego, ampliação da desigualdade de renda e elevação da “cyberdependência”. Administrar essa mudança de paradigma e o processo de transição é considerado essencial para assegurar a estabilidade econômica e social.
Schwab diz que sua preocupação é que autoridades políticas e executivos frequentemente são prisioneiros do pensamento tradicional ou estão muito absorvidos por questões imediatas para pensar estrategicamente sobre as formas da disrupção e inovação que estão modelando o futuro.
Ele nota que a quarta revolução se apoia sobre a terceira, igualmente conhecida por revolução digital, e que permitiu proliferar computadores e automação de arquivos de dados. Mas alerta que a nova vaga de transformações difere das precedentes por pelo menos três razões.
Primeiro, as inovações nunca foram difundidas tão rapidamente como agora. Segundo, a baixa dos custos marginais de produção e o surgimento de plataformas que agregam e concentram a atividade em vários setores aumentam os rendimentos de escala. Terceiro, essa revolução mundial vai afetar todos os países e terá impacto sistêmico em numerosas áreas.
O consumidor, por exemplo, se transforma cada dia mais em “consumi-ator”, com novas maneiras de se usar a tecnologia para mudar comportamentos e sistemas de produção.
Um dos maiores impactos dessa nova revolução industrial será logo sentida no mercado de trabalho. Relatório preparado pelo Fórum, com base em pesquisa em 15 grandes economias desenvolvidas e emergentes, prevê a perda líquida de 7,1 milhões de empregos até 2020, por causa de redundância, automação ou desintermediação, afetando principalmente certos empregos administrativos. Essa perda poderá ser parcialmente compensada pela criação de 2,1 milhões de empregos em áreas mais especializadas como computação, matemática, arquitetura e engenharia, e tambem nas áreas de mídia e entretenimento.
A expectativa é que trabalhos intelectuais mais repetitivos poderão ser substituídos pela robotização. Schwab acredita que, dentro de 10 anos, o consultor financeiro de um banco será provavelmente um robô equipado de inteligência artificial para aconselhar o cliente a investir.
Reparadores de robôs, expedidores de drones estão entre as profissões de mais futuro, assim como nas áreas de saúde, educação e social no rastro do envelhecimento da população e aumento de casos sociais, como os refugiados. Também a cultura vai sair ganhando, com aumento da capacidade de inovação e criação de valor que não vai se concentrar apenas no plano tecnológico.
Conforme pesquisa feita pelo Fórum, a estratégia mais popular nas indústrias é investir em melhorar a qualificação dos atuais empregados. Também favorecem outras práticas, como apoiar a mobilidade e a rotação no emprego, atraindo mais mulheres e talento estrangeiro e oferecendo aprendizado. As contratações de curto prazo ou empregado virtual são bem menos populares, nas respostas dos executivos.
Brasil pode ter redução de empregos com quarta revolução industrial.
O Brasil figura ao lado de África do Sul, da Itália e do Sudeste Asiático na lista dos países e regiões onde a quarta revolução industrial terá impacto predominantemente negativo no mercado de trabalho. A principal aposta das companhias brasileiras para fazer frente aos desafios tecnológicos tem sido os investimentos na requalificação de seus empregados, segundo relatório divulgado hoje pelo Fórum Econômico Mundial.
Com base em entrevistas respondidas por chefes das áreas de recursos humanos de grandes empresas, o fórum identificou os setores de energia e tecnologia de informação como aqueles onde pode haver maior encolhimento da mão de obra até 2020 no Brasil, sobretudo em decorrência de inovações promovidas pela nova revolução industrial. Estima-se uma perda líquida de 5% a 6% dos postos de trabalho atuais. O segmento de mobilidade, que inclui transportes e logística, tem panorama positivo.
Índia, México, Turquia e os países do Conselho de Cooperação do Golfo – Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes, Kuwait e Omã – são apontados como potenciais beneficiários das mudanças. Os demais, incluindo Estados Unidos e China, ficam com perspectiva neutra.
Lançado na antevéspera da reunião anual de Davos e intitulado “Futuro dos Empregos”, o relatório observa que, em muitos países e indústrias, a maioria das especialidades simplesmente não existia apenas dez anos atrás. E o ritmo das mudanças deve acelerar: 65% das crianças que chegam ao ensino fundamental hoje vão acabar trabalhando com sistemas e processos que ainda não existem.
Por isso, a mensagem do fórum é clara: “As últimas ondas de avanços tecnológicos e mudanças demográficas levaram a mais prosperidade, produtividade e criação de empregos. Isso não significa, porém, que essas transições estão livres de riscos ou dificuldades. Antecipar-se e preparar-se para a transição atual é necessário”.
A pesquisa abrange 371 companhias que empregam atualmente 13 milhões de pessoas em nove setores da indústria. O objetivo foi entender, nos 15 países pesquisados, como o pessoal de RH vê as perspectivas de suas empresas nos próximos cinco anos. Três grandes consultorias do setor – Adecco, Manpower e Mercer – ajudaram na metodologia.

Fonte: Valor Econômico, por Assis Moreira e Daniel Rittner, 19.01.2016

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