Na última semana escrevi um texto com o título de “Estar desempregado é crime”? Confesso que não esperava tanta repercussão. Foram centenas de mensagens me parabenizando pela abordagem e até mesmo pela coragem de tocar em um ponto tão sensível. Como disse não esperava tamanho burburinho e nem me passava pela cabeça voltar a escrever sobre o tema.
A questão é simples. Por que os desempregados se sentem tão desprezados?
São vários os fatores ou nenhum. Sinceramente não sei bem ao certo. O que parece é que as pessoas realmente sentem receio em ter um desempregado ao lado. Contratar um então! Nem me fale. Por que contrataria alguém que não está empregado? Se não serviu pra outro por que serviria para minha empresa? Incrível mas é o que parece. Por analogia, imagine se alguém se negasse a “namorar” uma pessoa que já teve um namorado e agora está sozinho. Piada né!
Outra questão muito citada é que se você está desempregado o seu poder de negociação diminui.
Vamos esclarecer uma coisa de uma vez por todas. O tema em destaque não se refere às pessoas que legitimamente querem mudar de emprego, profissão, dar novos rumos à carreira, buscar novos desafios e por aí vai. Estas pessoas devem sim se manter empregadas e com isto tem um maior poder de negociação. Isto é fato. E não estamos aqui tratando destas pessoas.
Estamos falando de pessoas desempregadas. Que por um motivo qualquer deixaram os seus empregos ou atividades principais e precisam se recolocar no mercado. Entendeu agora? Perderam o emprego e precisam trabalhar. Ponto. Só isto.
Estas pessoas se sentem muito desprezadas e maltratadas. O que era uma impressão ficou muito cristalino pelos inúmeros e-mails que recebi.
O que podemos fazer por elas?
“Eu não sou um empregador e em princípio nada posso fazer” é o que muitos pensam. Outros dizem que não gostam de indicar pois uma coisa é conhecer a pessoa outra é corroborar.
Vamos lá. Quem indica o faz pois conhece a pessoa certamente. O profissional nem sempre. Indicar alguém para uma vaga é apenas parte do processo. A responsabilidade pela contratação não é de quem indica. Muito menos é garantia ou certeza de que o indicado vai corresponder ao que lhe for solicitado. Da mesma forma que não é garantia de que a empresa vai cumprir com tudo o que for combinado. Trata-se apenas e tão somente de uma tentativa de aproximação entre quem pode precisar e quem pode estar precisando. A responsabilidade não pode ser maior do que isto. Não deve pelo menos. Ninguém pode ser responsabilizado pelas atitudes do outro.
Um aspecto que ficou muito claro é a grande chateação que ocorre pela inexistência quase absoluta de respostas.
As empresas direta ou indiretamente demoram demais em seus processos seletivos e quando o fazem, em sua grande maioria (não posso quantificar com exatidão) não dá um retorno aos candidatos não aprovados. É incrível o número de pessoas que mencionam terem sido contatadas por empresas, participaram de processos e nunca mais obtiveram qualquer tipo de resposta.
Entendo que pelo lado dos contratantes, o trabalho é imenso, mas, me desculpem pela sinceridade, nada justifica não dar uma resposta a alguém que pleiteia uma vaga. É o mínimo que se espera não apenas de uma empresa séria, mas do profissional responsável pelo contato. Podem acreditar. É muito melhor saber que não foi o escolhido do que ficar esperando indefinitivamente sem nenhum contato.
Este tema não se esgota aqui, muito ao contrário, ele se estende por muitos caminhos e percepções distintas. O que se pode afirmar é que não importa o motivo. As pessoas que se encontram desempregadas sentem-se desamparadas. Portanto, meus caros, se não puderem ajudar, por favor, ao menos respeitem e façam o possível para não aumentar ainda mais o estado natural de ansiedade dos desempregados.
Certamente alguma coisa cada um de nós pode fazer. Não faça pelo outro. Faça por você. Amanhã alguém pode pensar igual e fazer o mesmo, só que agora, por você. Boa sorte e sucesso a todos.
Fonte: Exame.com, por Airton Carlini, 29.04.2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário