Os millennials estão mudando sua percepção sobre as empresas e o mercado de trabalho, indica recente pesquisa global da consultoria Deloitte. Segundo o estudo, os nascidos depois de 1982 estão procurando maior estabilidade financeira, assim como mais flexibilidade no ambiente de trabalho.
Das 8 mil pessoas ouvidas em 30 países, o número de millennials que se veem saindo do emprego nos próximos dois anos caiu entre 2016 e 2017, enquanto os que se veem por mais de cinco anos no mesmo posto subiu [veja no gráfico]. O estudo sugere que a mudança é provocada pelo ambiente econômico externo mais difícil e por mudanças internas nas empresas.
Entre as mudanças do cenário mundial, o estudo cita a eleição de Donald Trump nos EUA e o Brexit como fontes de preocupação. Menos da metade dos entrevistados (45%) esperam que a situação econômica de seu país melhore nos próximos 12 meses.
Para o coordenador do Laboratório de Inovação Social da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ademar Bueno, o estudo mostra que as fichas estão caindo para a nova geração. “Eles estão vendo que existem possibilidades de que algumas coisas aconteçam de um jeito diferente do que foi determinado pelo ideal”, afirma.
Essa nova percepção de que o mundo não é “tão cor de rosa” provocou novos comportamentos nos millennials em relação ao mercado de trabalho, diz Bueno. “Eles começaram a perceber que precisam de dinheiro garantido, emprego fixo, embora queiram flexibilidade também”, comenta.
Apesar da preocupação com possíveis dificuldades econômicas, os millennials precisam sentir flexibilidade no ambiente laboral para permanecer em uma empresa, seja com relação aos horários, às funções ou local de trabalho.
A gerente geral da consultoria britânica YSC no Brasil, Elaine Saad, diz que essa flexibilização é fruto da própria ascensão dos millennials nas empresas. “Essa nova geração foi precursora dessa forma de trabalho mais flexível. É natural que queiram ter para eles essa flexibilidade”, afirma. Para ela, o movimento de adaptação existe, mas varia de empresa para empresa.
Tudo ao mesmo tempo
Demandar novas formas de aproveitar o tempo no trabalho é inerente para os millennials. Segundo Bueno, da FGV, o perfil da geração é de pessoas multitarefas, com muitas habilidades e responsabilidades para exercer ao mesmo tempo. “Eles querem fazer parte de vários coletivos, fazer cursos, estudar música, ser voluntário, tudo ao mesmo tempo – e ficar fechado em um escritório oito horas por dia não possibilita isso”, afirma.
Mas não é só isso que faz a nova geração permanecer em uma empresa, e sim um conjunto de oportunidades. “Os millennials procuram mais: eles querem uma relação de igual para igual com a chefia, um propósito maior no trabalho, não só o ganho financeiro, mas possibilidades novas de aprendizado”, diz Elaine.
A análise é condizente com a experiência do grupo Gerdau, que vem incorporando à sua cultura corporativa conceitos como abertura e simplicidade. Em um processo iniciado há cerca de dois anos, a siderúrgica destaca a autonomia que os colaboradores ganharam, a abertura para novas ideias, o aprendizado coletivo e colaboração no ambiente de trabalho. “Acreditamos que as novas gerações estão conectadas com esses atributos da nossa cultura. Esse público busca conectar sua vida pessoal com trabalho e cada vez mais por meio de uma busc apor propósito, além de espaço e ambientes que estimulem a inovação”, diz o vice-presidente de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional do grupo brasileiro, Francisco Fortes.
Regras menos rígidas
A multinacional 3M também oferece à equipe a possibilidade de adotar horários flexíveis e regime de home office. Na unidade de Sumaré (SP), criou ainda um espaço para o colaborador usufruir de serviços sem sair da empresa, como manicure e barbearia, supermercado e massagem.
“Queremos que as pessoas possam estar aqui, utilizando o tempo de trabalho para fazer alguma coisa que perderiam muito tempo fora”, diz o diretor de Recursos Humanos do grupo, Fernando do Valle.
Para ele, é uma tendência. “Mais de 20% da população já são millennials. Temos que adaptar não só o ambiente de trabalho, mas o modelo de negócio”, afirma. “Se você não se adapta, o modelo de negócio vai se mostrando inviável”, diz.
Fonte: Diário Comércio Indústria & Serviços, por Matheus Riga, 22.03.2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário